O governo dos Estados Unidos deu um novo passo em direção ao endurecimento das regras de entrada de estrangeiros no país. Nesta quarta-feira (10), foi divulgada uma proposta que prevê a obrigatoriedade de turistas atualmente isentos de visto apresentarem o histórico de suas redes sociais dos últimos cinco anos como condição para autorização de entrada em território americano.
Caso seja confirmada, a medida afetará diretamente viajantes de 42 países que hoje integram o Programa de Isenção de Vistos, conhecido como ESTA. A lista inclui mercados emissores relevantes para o turismo global, como Alemanha, França, Reino Unido e Japão, cujos cidadãos atualmente precisam apenas preencher uma autorização eletrônica para viagens de curta duração aos Estados Unidos.
Ampliação das exigências no ESTA
Atualmente, o processo do ESTA exige o pagamento de US$ 40 e o fornecimento de dados básicos, como endereço de e-mail, endereço residencial, telefone e contato de emergência, com validade de dois anos. Desde 2016, a inclusão de informações sobre redes sociais era opcional. A nova proposta, no entanto, transforma essa prática em exigência formal.
Além do histórico de redes sociais dos últimos cinco anos, o documento prevê que os turistas também informem todos os números de telefone utilizados nesse período, bem como endereços de e-mail usados nos últimos dez anos. O texto vai além ao solicitar dados detalhados de familiares próximos — pais, cônjuges, irmãos e filhos — incluindo nomes, endereços, datas e locais de nascimento, além dos telefones usados por eles nos últimos cinco anos. Inconsistências nas informações podem resultar no impedimento da entrada do viajante no país.
A proposta foi publicada no Federal Register, o diário oficial americano, pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, órgão vinculado ao Departamento de Segurança Interna. O texto entra agora em um período de consulta pública de 60 dias, durante o qual cidadãos, empresas e entidades podem apresentar comentários, críticas ou sugestões antes da eventual implementação.
Endurecimento migratório e contexto político
A iniciativa se soma a outras ações recentes do governo Trump no campo migratório. Uma semana antes, o Departamento de Estado, segundo informações da agência Reuters, orientou consulados a negar vistos — inclusive de trabalho — a estrangeiros que tenham atuado em moderação de conteúdo, segurança digital ou checagem de fatos. A justificativa apresentada foi a de que esses profissionais estariam praticando “censura” e “supressão da livre expressão essencial ao estilo de vida americano”.
Em julho, o governo já havia anunciado propostas para impor limites mais rígidos à permanência de jornalistas estrangeiros nos Estados Unidos. A retórica contra imigrantes, marca registrada de Donald Trump desde seu primeiro mandato, voltou a ganhar força no atual contexto político.
Impactos no turismo internacional
Esse ambiente mais restritivo ocorre em um momento delicado para o turismo norte-americano. Dados do World Travel & Tourism Council indicam que os gastos de visitantes internacionais devem cair de US$ 181 bilhões em 2024 para menos de US$ 169 bilhões em 2025, uma perda estimada em US$ 12,5 bilhões. Episódios de detenções de turistas estrangeiros, incluindo cidadãos alemães que permaneceram semanas retidos, tiveram ampla repercussão negativa no exterior.
Em março, a Alemanha chegou a atualizar suas recomendações de viagem aos Estados Unidos, alertando que um visto ou isenção não garante, necessariamente, a entrada no país.
O cenário preocupa o setor turístico especialmente diante de eventos de grande porte no horizonte. Em 2026, os Estados Unidos serão um dos principais palcos da Copa do Mundo, ao lado de México e Canadá. Já em 2028, Los Angeles sediará os Jogos Olímpicos, com expectativa de forte demanda internacional. A eventual adoção de exigências mais rigorosas pode influenciar diretamente o fluxo de visitantes e a percepção do destino no mercado global.