A poucos meses do início da temporada 2025/2026 de cruzeiros marítimos, a Associação Nacional de Terminais de Cruzeiros (Aterc Brasil) defende avanços no projeto de transferência do Terminal de Passageiros do Porto de Santos, atualmente localizado na região de Outeirinhos, para o Valongo, no Centro Histórico.
O projeto, em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), é visto como estratégico para modernizar a infraestrutura portuária e atender à crescente demanda do setor no Brasil. Após passar pelo órgão, o estudo deverá ser encaminhado ao Ministério de Portos e Aeroportos (Mpor), que já deu o aval para a mudança de área. O prazo estimado para a construção do empreendimento é de cinco anos.
Com previsão de início em 26 outubro e fim em 19 de abril do ano que vem, a temporada 2025/2026 será impactada pela redução do número de navios de cruzeiro no Porto de Santos, o principal hub do País. Seis embarcações farão 122 escalas regulares no complexo marítimo, na região de Outeirinhos. Em comparação com temporadas anteriores, esses transatlânticos são mais antigos e têm menor capacidade de hospedagem.
A Aterc entende que um dos principais entraves do setor é a ausência de infraestrutura adequada, com destaque para a falta de berços exclusivos para atracação de navios de passageiros, um fator que compromete a segurança e a eficiência das operações, inclusive no Porto de Santos.
“É preciso destacar que o armador enxerga o passageiro como um hóspede. E a experiência da viagem começa antes mesmo do embarque: com um acesso rápido e fácil ao terminal, um embarque organizado por meio de fingers e uma logística eficiente dentro e fora da instalação portuária”, afirma João Tomaz, diretor-executivo da Aterc Brasil.
O projeto proposto no Valongo oferece uma experiência de bem-estar aos passageiros, tripulantes e usuários, com uma concepção moderna, funcional e competitiva com os demais destinos mundiais. Os embarques serão realizados por meio de fingers, com segregação de passageiros e abastecimento de navios. A estrutura contará, também, salão de imigração, salão para desembarques internacionais e prédio de estacionamento fora da área operacional.
Há cerca de quatro anos, a mudança de Outeirinhos para o Valongo foi solicitada à arrendatária, com a apresentação de um projeto do terminal na região em frente ao armazém 1. O Concais, com 27 anos de expertise no Porto de Santos, aguarda a autorização para a transferência à área, que é considerada estratégica para o setor.
O Terminal do Valongo contempla a construção de um empreendimento, com capacidade para atracação simultânea de três navios em uma área abrigada, na região interna do porto. Além das instalações para passageiros, a estrutura inclui edifício garagem, passarela de interligação e de embarque.
A localização é outro diferencial. Próximo ao Parque Valongo e a poucos minutos do futuro Aeroporto Civil Metropolitano de Guarujá, o terminal se integrará ao Centro Histórico de Santos, impulsionando o turismo e o comércio local.
Para se ter uma ideia da magnitude da operação de cruzeiros, em dias de pico, quando três navios deste tipo atracam simultaneamente no Porto, o fluxo em direção ao terminal chega a 30 mil pessoas. Para isto, são deslocados cerca de 360 ônibus, 150 vans e 5,5 mil automóveis. A operação de abastecimento de suprimentos exige, ainda, 42 caminhões baú, 36 veículos pesados e cinco carretas com contêineres de 40 pés.
“A operação de cruzeiros no Porto de Santos é uma das mais complexas do turismo brasileiro. Ela exige uma logística robusta e altamente coordenada, com centenas de ônibus, vans, automóveis e caminhões em circulação, o que demonstra a urgência de uma infraestrutura moderna e adequada para atender com eficiência e segurança essa demanda crescente. Tudo isso sem impactar a cidade e sem criar transtornos para os moradores da região”, afirma Tomaz.
Outras propostas
Duas TUPs na Baixada Santista apresentaram à sociedade projetos de cruzeiros marítimos. Porém, apesar de serem divulgados como instalações para passageiros, os empreendimentos têm como foco o mercado imobiliário e comércio. Estão em áreas densamente habitadas, que já enfrentam problemas de mobilidade urbana. Além de ignorar a complexa logística envolvida em operações de cruzeiros, as propostas trarão severos impactos diretos à rotina da população local e ao meio ambiente, tendo em vista o grande fluxo de pessoas em carros, ônibus e caminhões em direção a regiões residenciais.
“Tratam-se de concepções antigas, que vão na contramão das práticas adotadas pelas grandes armadoras internacionais. São projetos que não consideram o fluxo intenso de veículos e pessoas envolvidas nesse tipo de operação, causando um grande impacto à cidade. E ainda podem comprometer a fluidez da navegação em todo o Porto, por estarem localizados na entrada do canal. Importante destacar que outros locais do Brasil já tiveram projetos similares e eles nunca saíram do papel”, adverte Tomaz.
Compromisso com responsabilidade e expertise
A Aterc Brasil reforça que a construção de um terminal portuário de passageiros, como o proposto para o Porto de Santos, é uma obra de grande porte e complexidade, com impacto direto na vida das pessoas, na economia da região e até mesmo do País. Por isso, os empreendimentos devem ser conduzidos com responsabilidade, transparência e por empresas com comprovada expertise no setor.
A entidade ressalta, ainda, a importância de uma célere análise do projeto do Valongo, uma alternativa viável, segura e moderna, já apoiada pela Prefeitura de Santos e amplamente debatida com os principais players do setor. A demora nesta definição pode trazer sérias consequências para as próximas temporadas de cruzeiros e comprometer o futuro do turismo marítimo no Brasil.