A Latam Brasil celebra uma das fases mais emblemáticas de sua trajetória recente. De janeiro a agosto de 2025, a companhia transportou 25 milhões de passageiros em sua rede nacional, número quase 3 milhões superior ao registrado no mesmo período do ano anterior. O feito, divulgado com base nos dados consolidados pela Anac, representa não apenas uma expansão no volume transportado, mas um marco histórico para a operação da empresa no país.
Segundo Aline Mafra, diretora de Vendas e Marketing da Latam, o resultado é reflexo de um ciclo consistente de crescimento, sustentado por eficiência operacional, diversificação da malha e forte conexão com as demandas do mercado. “É um patamar histórico para a Latam no Brasil. Chegamos a um market share de 41,4%, o maior dos últimos 12 anos. A última vez que atingimos esse nível foi por volta de 2012 ou 2013”, destaca.
O desempenho da Latam não se limita ao transporte de passageiros. No segmento corporativo, a companhia também atingiu recorde: segundo dados mais recentes da Abracorp, a empresa detém 41% de participação no faturamento de viagens de negócios, a maior já reportada pela associação. O número consolida a liderança da aérea nesse público estratégico e reforça o peso da marca no mercado B2B.
A executiva ressalta que a evolução recente da companhia está ligada à reconfiguração do grupo após a reestruturação judicial (Chapter 11), ocorrida durante a pandemia. O processo, que à época foi visto como um movimento conservador, hoje é apontado como decisivo para a retomada da estabilidade financeira e operacional. “Tomamos a decisão no momento certo. Conseguimos renegociar contratos e sair fortalecidos, enquanto outras empresas ainda enfrentavam restrições severas de frota. Hoje, colhemos os resultados dessa eficiência”, avalia Mafra.
Com a demanda doméstica em expansão e a confiança de volta ao mercado, a Latam vive um novo ciclo de protagonismo. A companhia tem conseguido incorporar aeronaves adicionais e redistribuir capacidade dentro do grupo, priorizando o Brasil como um dos principais mercados da holding. O resultado é uma empresa mais robusta, com maior capilaridade e melhor desempenho operacional, tanto em voos nacionais quanto internacionais.
“Mais do que números, esse é um marco de consistência. Conseguimos crescer com qualidade e manter o ritmo de expansão sem comprometer a experiência do passageiro”, resume Aline Mafra, destacando que o atual momento da Latam reflete “a soma de decisões estratégicas tomadas no tempo certo, com foco no cliente e na eficiência do negócio”.
Presença doméstica e conectividade regional
A empresa aérea atravessa uma fase de expansão territorial inédita desde a fusão com a Lan, em 2012. A companhia, que em 2019 operava em 44 aeroportos brasileiros, chega a 2025 com presença consolidada em 59 terminais, o que representa um aumento de 34% em sua oferta doméstica. O movimento, que começou ainda na recuperação pós-pandemia, reflete uma estratégia de descentralização e capilaridade, voltada a cidades médias e a novos polos econômicos fora do eixo tradicional Rio–São Paulo.
De acordo com Aline, a companhia tem conseguido aproveitar de forma eficiente a chegada de novas aeronaves à holding para ampliar sua atuação regional. “Todos os aviões que chegam à Latam Holding passam por um estudo detalhado, e uma parte importante vem para o Brasil. Temos conseguido direcionar capacidade para a região, o que nos permitiu expandir de forma estratégica e sustentável”, explica.
Um dos grandes impulsionadores dessa nova etapa é o projeto de incorporação dos jatos Embraer E195-E2, anunciado oficialmente em agosto. O modelo, mais leve e eficiente, é considerado um divisor de águas na expansão regional da companhia, pois permite operar em aeroportos que antes não comportavam aeronaves de maior porte. “Durante anos, sentimos que existia um limite — um teto — de crescimento. Muitos aeroportos médios não tinham infraestrutura para receber nossos aviões maiores. O E195 rompe esse teto e abre um novo horizonte de operação”, destaca Mafra.
A Latam já formalizou a compra de 24 unidades do E195-E2, que começarão a ser entregues a partir de setembro de 2026, com um ritmo de recebimento acelerado até o fim de 2027. O contrato prevê ainda opção de compra de mais 50 aeronaves, o que, segundo a executiva, garante flexibilidade para futuras expansões. A companhia identificou 35 aeroportos potenciais para operar o novo modelo, sendo 25 deles localizados no Brasil, um indicativo de que o projeto foi “empurrado pela região” e desenhado com o mercado brasileiro em mente.
“Esse avião nos permite chegar a cidades que hoje dependem de voos fretados ou de um único operador. Muitas dessas localidades têm empresas, universidades e polos industriais que precisam de conectividade aérea regular. As agências e os clientes corporativos ficaram muito satisfeitos com essa notícia”, explica Mafra.
A diretora acrescenta que a lista de aeroportos-alvo é dinâmica e muda conforme a infraestrutura evolui. Reformas em pistas, abertura de novos parques industriais e políticas de incentivo estadual podem alterar rapidamente o mapa de destinos. “É uma lista viva. O que hoje está em estudo pode virar operação em meses. Esse dinamismo é o que torna o projeto tão promissor. Esse projeto é o símbolo de uma nova fase. Rompemos barreiras geográficas e operacionais e abrimos caminho para conectar o Brasil de forma ainda mais completa”, resume Aline.
Conexões estratégicas
Além da expansão doméstica, a Latam vive um momento expressivo no cenário internacional. A companhia tem adotado uma estratégia de crescimento gradual, sustentável e alinhada à demanda real dos mercados, priorizando a conectividade dentro da América do Sul e fortalecendo rotas com alto potencial de negócios e lazer.
Segundo a diretora, a empresa trabalha em duas frentes de expansão internacional: a abertura de novos destinos e a criação de novas ligações diretas entre cidades já atendidas. “É um movimento que atende tanto à retomada do turismo regional quanto às necessidades corporativas de deslocamento entre polos econômicos da América do Sul”, explica.
Entre os novos destinos, Aline destaca São Paulo–Córdoba, São Paulo–Rosário e São Paulo–Buenos Aires, reforçando a presença da Latam na Argentina, um dos principais mercados da companhia na região. “Cada vez que cortamos a fita de um destino novo, é um marco para nós. Bariloche, por exemplo, foi uma operação sazonal que se tornou emblemática. A aceitação do público foi excelente e mostrou que o brasileiro voltou a olhar para a América do Sul com mais interesse”, comenta.
No eixo de novas ligações, a companhia adicionou voos como Recife–Buenos Aires, Florianópolis–Lima, Florianópolis–Buenos Aires e a operação sazonal Belém–Bogotá, criada especialmente para atender à COP 30, evento global sobre mudanças climáticas que acontecerá em 2025. Além disso, a rota Fortaleza–Lisboa, aberta no início do ano, simboliza o avanço da companhia sobre o mercado europeu, aproveitando a alta demanda por voos para Portugal e conexões com o continente.
“Tudo o que temos para a Europa está crescendo de forma acelerada. A aceitação do passageiro tem sido extraordinária, tanto nos voos diretos quanto nas conexões via Guarulhos”, afirma Mafra.
Essa expansão internacional também está atrelada a um reposicionamento estratégico da marca Latam, que busca consolidar sua presença em mercados onde o passageiro latino-americano tem forte relevância. O objetivo é aumentar a densidade de operações em rotas curtas e médias, reduzindo o tempo de deslocamento e integrando cidades secundárias a grandes hubs da companhia.
A estratégia também reforça o papel da Latam como ponte entre o Brasil e o restante do continente, em um momento em que o turismo regional ganha relevância para o trade. Com novas rotas, aeronaves adaptadas e uma rede de conexões mais ampla, a companhia consolida sua posição como líder na integração aérea sul-americana, combinando performance operacional e visão de longo prazo.
Investimento alto
Com um crescimento sustentado em todas as frentes, a companhia também acelera no aprimoramento de seus produtos e serviços. Em paralelo à expansão da malha, a companhia anunciou um pacote de investimentos de US$ 220 milhões voltado à modernização da frota, ampliação do conforto a bordo e criação de novas experiências de viagem. A proposta reforça a ambição da aérea em alinhar eficiência operacional com qualidade de atendimento e inovação tecnológica, posicionando-se entre as empresas mais competitivas da América Latina.
Aline afirma que a prioridade é devolver ao passageiro a excelência que ele busca. “Quando divulgamos resultados positivos ao mercado, eles não representam apenas performance financeira, significam que conseguimos reinvestir em nossos clientes. Todo esse movimento é uma forma de devolver a eles o retorno do nosso crescimento”, afirma.
Entre as principais iniciativas, destacam-se quatro grandes projetos estruturantes:
- Conectividade a bordo: US$ 60 milhões
A Latam investirá US$ 60 milhões na instalação de Wi-Fi em todos os aviões de longo curso, um pedido recorrente dos clientes, sobretudo do público corporativo. A tecnologia começa a ser implementada a partir de 2026 e garantirá conexão estável e gratuita para mensagens, além de planos premium para navegação completa. “Antes, nossos voos de longa distância eram, em sua maioria, noturnos. Agora, com mais operações diurnas, a demanda por conectividade cresceu muito”, comenta Aline.
- Retrofit dos Airbus A319: US$ 40 milhões
Outra frente relevante é o retrofit completo dos A319, com novos assentos, tomadas USB-A e USB-C, além de melhorias no sistema Latam Play de entretenimento. A modernização traz não apenas conforto, mas também padronização tecnológica entre aeronaves de curta e média distância, facilitando a gestão de frota e melhorando a experiência do passageiro.
- Nova sala VIP em Guarulhos: US$ 20 milhões
A companhia confirmou também a construção de uma nova sala VIP no Aeroporto Internacional de Guarulhos, com 4,2 mil metros quadrados, que será uma das maiores da América do Sul. O espaço, voltado a passageiros de voos internacionais e de conexões premium, representa um investimento de US$ 20 milhões e reforça o posicionamento da Latam em oferecer infraestrutura de alto padrão para o viajante de negócios.
- Cabine Premium Comfort: US$ 100 milhões
O investimento mais robusto, de US$ 100 milhões, será destinado à criação da nova cabine Premium Comfort, uma categoria intermediária entre a econômica e a executiva. O produto foi desenhado a partir de pesquisas com clientes e atenderá uma demanda crescente por mais conforto sem custo de classe executiva. Todos os aviões de fuselagem larga (widebodies) da frota Latam receberão retrofit com o novo layout.
“Esse é o meu maior orgulho pessoal dentro dos projetos recentes”, revela Mafra. “É um investimento alto, mas que responde diretamente ao que o cliente vinha pedindo há anos. Nós ouvimos e estamos entregando uma nova experiência de bordo.”
Escuta ativa e transformação cultural
A consolidação da Latam no mercado brasileiro também é sustentada por uma profunda mudança cultural, que reposicionou o cliente no centro das decisões estratégicas. Após anos de foco em eficiência operacional e retomada financeira, a companhia passou a medir com precisão a experiência do passageiro e a incorporar esses indicadores à sua rotina de gestão.
Um dos principais reflexos dessa virada é o avanço expressivo no Net Promoter Score (NPS), índice que avalia a satisfação e a lealdade do cliente, que cresceu 37 pontos desde 2019, saltando de 19 para 56 pontos, o melhor resultado da história da empresa. O indicador é acompanhado de forma segmentada, permitindo o monitoramento detalhado de cada etapa da jornada: compra, embarque, voo e pós-venda.
Esses dados são complementados por análises de plataformas externas, como Consumidor.gov e Reclame Aqui, que hoje registram o menor volume de reclamações por passageiro transportado entre todas as companhias aéreas que operam no país. A meta declarada é ambiciosa: zerar as ocorrências. Ainda que o caminho seja longo, o avanço recente demonstra que o compromisso com o cliente se transformou em um pilar central da gestão corporativa.
O processo teve início durante a pandemia, quando a empresa precisou reavaliar prioridades em meio à paralisação quase total das operações. A experiência de lidar com cancelamentos, reembolsos e incertezas acelerou a adoção de uma postura mais empática e analítica. A partir dali, a escuta do passageiro deixou de ser apenas um canal de atendimento para se tornar ferramenta de transformação interna.
Hoje, a companhia traduz esse aprendizado em políticas mais simples, comunicações mais transparentes e equipes de atendimento capacitadas para resolver demandas com autonomia. A mudança de mentalidade é perceptível também na linha de frente: o passageiro encontra profissionais mais preparados e conscientes de que a experiência humana é tão importante quanto a eficiência operacional.
“Quando o cliente percebe que foi ouvido e respeitado, ele se torna o nosso principal promotor. É isso que buscamos: uma relação de confiança construída dia após dia”, declara Aline.
Legado da reestruturação e futuro
A trajetória recente da Latam é marcada por uma transição de crise para consolidação. A reestruturação iniciada durante a pandemia, quando a companhia recorreu ao Capítulo 11 da legislação norte-americana, foi o ponto de inflexão que permitiu o atual ciclo de prosperidade. À época, a decisão foi vista com cautela pelo mercado, mas hoje é reconhecida como um dos movimentos mais assertivos da história do grupo.
Ao renegociar contratos e readequar a frota em um momento em que o mundo inteiro reduzia operações, a empresa conseguiu preservar liquidez, reduzir custos e reposicionar sua estrutura para um cenário de retomada. “Naquele momento, ninguém queria trazer aviões, o mercado estava parado. Nós aproveitamos a oportunidade para reorganizar a casa e construir as bases da expansão que vemos agora”, recorda Aline.
Para os próximos anos, a perspectiva é de estabilidade sustentada e evolução contínua. A chegada dos jatos Embraer E195-E2, o fortalecimento das rotas regionais e os novos investimentos em produto e atendimento pavimentam um caminho de crescimento equilibrado, sem comprometer margens ou qualidade. O Brasil seguirá no centro dessa estratégia, como principal mercado do grupo e laboratório para inovações operacionais.
“A reestruturação nos ensinou a ser eficientes sem perder a ambição. Hoje, crescemos com consistência, com foco em produto, em pessoas e em uma malha que conecta o país de forma cada vez mais completa”, afirma Mafra.



