Gramado (RS) – O segundo painel do Meeting Festuris, que abriu oficialmente a programação da 37ª edição da Festuris, nesta sexta-feira (7), em Gramado (RS), reuniu dois nomes de peso para discutir os rumos do turismo contemporâneo sob a ótica da sustentabilidade e da identidade cultural. Com o tema “Turismo do Amanhã: Perspectivas para o desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos”, o encontro contou com Leônidas Oliveira, arquiteto, urbanista e especialista em História da Arte, e Ronaldo Santini, secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, sob mediação de Lu Thomé.
Leônidas Oliveira iniciou sua fala traçando um panorama histórico sobre as transformações do comportamento humano e sua relação com as viagens após períodos de crise. Ele lembrou que pandemias, como a peste negra, a gripe espanhola e, mais recentemente, a Covid-19, sempre redefiniram a forma como as pessoas se conectam com o mundo e buscam novas experiências. “Essa transição civilizatória traz a mobilidade constante ao valor da permanência. As pessoas estão cansadas de ficar e viajar. O novo luxo é habitar com sentido”, afirmou.
O arquiteto ressaltou que o turismo atual caminha para experiências mais profundas, em que o encontro humano e a vivência cultural se sobrepõem à quantidade de viagens. “Viajar com a possibilidade de criar conexões reais entre as pessoas e com a cultura local é o que dá sentido à jornada”, disse. Ele também destacou que a sustentabilidade precisa ser reinterpretada no século XXI, indo além da preservação ambiental. “Hoje, sustentabilidade é a conexão com a vida em suas diversas dimensões — cultural, afetiva, religiosa e até filosófica. Chegou o momento em que o cuidado com o coração humano também se tornou um ativo”, pontuou.
Leônidas citou Gramado como exemplo de destino que conseguiu unir acolhimento, cultura e propósito, elogiando a hospitalidade local. “No hotel em que estou hospedado, a senhora que arrumou minha cama me lembrou minha mãe. Esse gesto simples me deu um aconchego vigoroso. Se os hotéis do Brasil tivessem esse tipo de afetividade, estariam à frente dessa tendência”, relatou, defendendo que a hotelaria reflita mais sobre como transformar hospedagens em experiências emocionalmente significativas.
Na sequência, Ronaldo Santini trouxe uma reflexão sobre como o Rio Grande do Sul tem redescoberto sua própria essência após os desafios da pandemia e das calamidades naturais recentes. Em um discurso carregado de simbolismo, ele usou o chimarrão como metáfora de conexão e identidade. “O mate é a primeira rede social do mundo. É quando, de mão em mão, patrão, peão e capataz trocam planos e corrigem os rumos da humanidade. Se os senhores da guerra tomassem mate antes de entrar em batalha, o mundo estaria em paz”, declarou.
Santini destacou que o turismo gaúcho tem encontrado força na valorização daquilo que antes era motivo de vergonha ou apagamento cultural. “O que por muito tempo escondemos passou a ser o nosso maior ativo. As coisas simples da vida, o cheiro do café no bule, o pãozinho de queijo, o sotaque — tudo isso é memória e pertencimento”, afirmou. Ele também alertou para a necessidade de desacelerar em um mundo dominado por telas. “Vivemos escravos digitais. Mas um turista que cavalga por três horas nos campos de Cambará do Sul grava na memória algo que nenhuma nuvem digital é capaz de guardar.”
O Brasilturis viaja com proteção da Affinity Seguro.



