Gramado (RS) – O mercado de viagens corporativas segue em ritmo de expansão e deve manter um crescimento sólido até 2026. A análise é de Luana Nogueira, diretora executiva da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev), que antecipa um cenário positivo, porém mais desafiador, para os próximos anos.
Segundo dados da entidade, o Levantamento de Viagens Corporativas (LVC) já atingiu R$ 93 bilhões nos oito primeiros meses do ano, representando alta de 7% em relação ao mesmo período anterior. “A tendência global é de crescimento de 8% ao ano até 2026. Mantermos entre 6% e 7% já é um excelente resultado”, avalia Luana.
Para ela, o setor está em transição para uma fase de crescimento mais sustentável, com maior maturidade e profissionalização, mesmo diante das incertezas políticas e econômicas. “Há fatores externos que impactam o mercado, como as movimentações políticas internacionais e o cenário eleitoral brasileiro, mas as empresas seguem confiantes e com orçamentos mantidos”, pontua.
O desempenho do segundo semestre é visto como um termômetro para o comportamento do setor. “Quando o segundo semestre replica os números do primeiro, significa que o mercado está acelerado”, explica a executiva.
Com grandes eventos e espaços já esgotados para o início de 2026, a Alagev observa um aquecimento consistente tanto nas viagens corporativas quanto na realização de eventos. “O fato de não haver disponibilidade em grandes centros para o primeiro trimestre do próximo ano mostra que o mercado não deve retrair”, afirma Luana.
Tecnologia, IA e personalização
Entre as tendências mais marcantes, Luana destaca a integração da inteligência artificial e a personalização das políticas corporativas. “Estamos saindo da fase da curiosidade para a maturidade do uso da IA. Veremos ferramentas mais preditivas e colaborativas, capazes de direcionar melhor os programas de viagens”, observa.
A executiva reforça que as políticas de viagem precisam ser mais humanas e flexíveis. Citando pesquisa da SAP Concur, ela aponta que 35% dos profissionais já pediram demissão ou transferência por conta de políticas inflexíveis ou excesso de viagens, e 85% aceitariam pagar do próprio bolso para melhorar a experiência em deslocamentos.
“Isso mostra que o foco das empresas precisa ir além da economia. É uma questão de valor e bem-estar. A experiência do colaborador impacta diretamente os resultados de negócio”, alerta.
Bem-estar e saúde mental entram na pauta corporativa
Com a entrada da NR1, norma que regulamenta a saúde mental no ambiente de trabalho, o debate sobre bem-estar nas viagens ganha urgência. Luana defende que a gestão de viagens precisa considerar o impacto físico e emocional sobre os colaboradores.
“Viajar com alta frequência gera estresse e burnout. O sucesso dos negócios depende de quem viaja e da forma como essa pessoa é tratada. Se o profissional chega cansado, ele reduz sua capacidade de raciocínio e reação. É preciso pensar além do seguro: é sobre qualidade e representatividade da marca”, comenta.
A diretora também aponta a tendência do ‘bleisure’, que une viagens corporativas e lazer. “Com tantos feriados e pontes, há espaço para incentivar o colaborador a aproveitar o destino. Além de bem-estar, isso traz senso de pertencimento e satisfação pessoal”, explica.
Lacte 21 e as trilhas de aprendizado
A próxima edição do Lacte 21, evento anual da Alagev, será guiada por quatro trilhas temáticas: Buzz Energy, Brain Up, Bring Your B-Side e Senso de Presença.
“Queremos provocar reflexão e autoconhecimento. As pessoas perderam o senso de presença e ‘estão’ em cinco lugares ao mesmo tempo e não estão onde realmente estão. O Lacte vai convidar os participantes a reconectar-se, viver o momento e expandir o conhecimento”, adianta Luana.
Além disso, o evento abordará temas como neurodiversidade, saúde mental e bem-estar corporativo. “Não se trata apenas de diversidade de gênero. Queremos ampliar o olhar para um mundo mais complexo, com inclusão real dentro das políticas de viagens e eventos”, afirma.
Governança, ESG e trabalho colaborativo
A executiva também reforça o avanço da governança corporativa dentro do setor. “O mercado evoluiu muito em profissionalismo e transparência. Hoje, temos um comportamento mais sólido e uma visão mais coletiva de desenvolvimento”, pontua.
Entre os resultados da Alagev, estão o aumento expressivo da visibilidade na mídia, a expansão das parcerias com Embratur e Fecomércio e a criação de um formato multissetorial de comunidades. A associação passará a organizar seus grupos de trabalho por temas e não apenas por segmentos, estimulando a troca entre diferentes setores.
“Percebemos que falar dos problemas dentro do mesmo grupo não resolve. A partir de 2026, as comunidades da Alagev funcionarão em squads multissetoriais, com foco em soluções conjuntas”, explica.
O Hub ESG também ganhará um novo formato, com conselho técnico próprio. “O ESG precisa ser vivenciado. Já contamos com dois conselheiros: Adriana Santana, da MCI, e Hélio Brito, da ESG Pulse. Eles trazem uma visão técnica e prática para o tema”, destaca Luana.
A executiva resume que o principal foco da Alagev é unir o mercado e fortalecer o ecossistema de viagens e eventos corporativos. “Não adianta fazer sozinho. O propósito é congregar, não segregar. Queremos trabalhar com outras entidades e associações, crescer de forma conjunta e construir um mercado mais equilibrado e humano”, finaliza.

