Nas Bahamas, o fim do ano marca o período mais emblemático de sua agenda cultural: o Junkanoo, manifestação tradicional que ocupa as ruas de Nassau com música, artesanato e expressões artísticas que há séculos fazem parte da identidade do arquipélago. O festival acontece anualmente no Boxing Day, em 26 de dezembro, e na madrugada do Réveillon, reunindo moradores e visitantes em um espetáculo que vai muito além da estética colorida que costuma ilustrar campanhas turísticas.
O Junkanoo tem raízes históricas profundas, associadas às comunidades afrodescendentes que moldaram a cultura das Bahamas. A tradição remete ao período colonial, quando escravizados recebiam um dia de folga para celebrar em grupos, criando uma forma de resistência cultural que atravessou gerações. Hoje, o festival mantém esse caráter comunitário, com a participação de clãs e agrupamentos conhecidos como shacks, organizados por bairros.
A preparação para os desfiles mobiliza essas comunidades durante praticamente todo o ano. Artesãos, músicos e voluntários trabalham em conjunto na produção de trajes feitos à mão (construídos majoritariamente em papel, penas e materiais reciclados) e nas coreografias guiadas pelo ritmo de tambores, sinos e instrumentos tradicionais. O resultado, no entanto, não é apenas um espetáculo visual: é um retrato vivo da memória coletiva bahamense.
Durante as apresentações na Bay Street, o público acompanha performances que mesclam dança, elementos narrativos e críticas sociais. A disputa entre os grupos é julgada por critérios como originalidade, musicalidade, organização e execução das fantasias. Apesar do caráter competitivo, o Junkanoo é também um espaço de fortalecimento cultural, onde diferentes gerações se encontram e mantêm vivas técnicas artesanais e tradições musicais.
Para quem deseja compreender o festival para além dos desfiles, há centros culturais dedicados ao tema em Nassau. O Educulture Junkanoo Museum e o Junkanoo World Museum & Arts Centre preservam peças históricas, contextualizam a formação do movimento e apresentam os mestres artesãos responsáveis por manter a tradição. Esses espaços também ajudam a evidenciar o papel do Junkanoo como ferramenta de educação cultural e integração comunitária.

