A escalada diplomática entre Japão e China já produz efeitos diretos no Turismo, um dos setores mais sensíveis a crises internacionais. Desde que a primeira-ministra japonesa Sanae Takaichi afirmou que o país poderia acionar suas forças de defesa para apoiar os Estados Unidos em eventual conflito envolvendo Taiwan, autoridades chinesas iniciaram uma série de medidas de pressão política, incluindo orientações oficiais para que cidadãos evitem viagens ao Japão por tempo indeterminado.
A recomendação desencadeou um movimento imediato de cancelamentos. Segundo a imprensa estatal chinesa, empresas de turismo relataram interrupções em reservas de voos, hotéis, tours e locação de veículos. Companhias aéreas como Air China, Xiamen Air e Sichuan Airlines flexibilizaram políticas de reembolso e passaram a suspender partidas para aeroportos japoneses. Até o momento, pelo menos 12 rotas aéreas entre os dois países foram retiradas de operação.
O Ministério da Cultura e do Turismo da China classificou as declarações de Takaichi como “flagrantemente provocativas” e afirmou que elas representam riscos potenciais à segurança dos chineses em território japonês. A restrição também se estende a funcionários de empresas estatais, que só podem viajar ao exterior com autorização e foram orientados a não considerar o Japão como destino.
Os efeitos começaram a aparecer com rapidez. Hokkaido, uma das regiões mais visitadas por chineses no Japão, convocou uma reunião de emergência para lidar com o impacto na demanda. Em 2024, visitantes da China continental representaram 18,9% do total de turistas no país, ficando atrás apenas da Coreia do Sul. O fluxo vindo de Hong Kong responde por mais 7,3%.
O economista Takahide Kiuchi, do Nomura Research Institute, estima que um boicote prolongado pode gerar perdas de 1,79 trilhão de ienes, cerca de R$ 61,6 bilhões, reduzindo em 0,29% o PIB japonês. Para o setor de turismo, altamente dependente do mercado chinês, a projeção acende um alerta significativo sobre a vulnerabilidade do destino diante de tensões geopolíticas.
Enquanto governos locais monitoram a situação, especialistas afirmam que a retomada plena depende da normalização do diálogo bilateral, que segue distante. A instabilidade ocorre em um momento em que o Japão buscava consolidar a recuperação do turismo após anos de retração.

