Ipojuca (PE) – O Visit Travel Show abriu espaço para um dos debates mais estratégicos do evento: o painel Inovação na Governança Turística: Novos Modelos, Novos Resultados. Mediado por Katia Georgina, do Sebrae Pernambuco, a mesa reuniu representantes de destinos com visões distintas, mas complementares: Deomaci Ramos, secretário de Turismo de Ipojuca; Eduardo Loyo, presidente da Empetur; Luís Sobrinho, da Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo; e Luia Barbacovi, vice-prefeito de Gramado.
O encontro evidenciou que o avanço da governança turística, seja em destinos consolidados ou emergentes, depende da combinação entre políticas públicas de longo prazo, participação social e estratégias de diversificação que fortaleçam o turismo como vetor econômico.
Logo na abertura, Katia definiu o tom da discussão ao enfatizar que governança moderna exige múltiplos atores atuando de forma coordenada. “Não existe mais espaço para políticas feitas exclusivamente dentro de gabinetes. O Turismo só avança quando poder público, iniciativa privada e comunidade constroem juntos”, afirmou.
Pernambuco reforça estrutura e amplia conectividade
Representando o estado, Eduardo Loyo destacou o momento de expansão de Pernambuco e a decisão estratégica do governo em qualificar a gestão com profissionais oriundos do trade. Segundo ele, a orientação da governadora Raquel Lyra foi clara: estruturar equipes técnicas, fortalecer a promoção turística e ampliar a relação com companhias aéreas e operadores.
Loyo lembrou que a Empetur é responsável tanto pela promoção quanto pelas articulações de malha aérea e capacitações. “A governança se faz com gente certa nos lugares certos. Reunimos gestores públicos e profissionais do turismo para acelerar entregas. Pernambuco hoje lidera o Nordeste em conexões internacionais, frequências e companhias aéreas em operação. Isso não se faz sozinho”, afirmou.
O executivo citou ainda programas de qualificação profissional, roadshows e o alinhamento entre municípios, associações e empreendedores, destacando que o estado está em trajetória ascendente após os recordes de movimentação no Aeroporto Internacional do Recife.
Ipojuca aposta em governança participativa e interiorização
O secretário Deomaci Ramos reforçou a importância da escuta ativa de trabalhadores e empreendedores para formular políticas coerentes com a realidade local. Bugueiro há 18 anos, ele levou para a pasta uma leitura prática das demandas do território. “Pela primeira vez, vimos categorias pedindo fiscalização. Isso mostra maturidade e desejo de organização. Nosso trabalho é ouvir, planejar e agir”, comentou.
De acordo com Ramos, 63% da população apontou, no PPA participativo, o desejo de criação de novas rotas turísticas. Esse resultado impulsionou a Secretaria de Turismo a priorizar a interiorização. “Ipojuca tem 503 km² de território e apenas 0,6% urbanizado. Ou seja, 99,4% do nosso potencial está na zona rural. Engenhos, história, cultura, quilombos, manguezais, baobás centenários. Em 2026, vamos levar o turista para conhecer esse patrimônio. É ali que está a nova fronteira do desenvolvimento”, afirmou.
O gestor antecipou articulações com Senac, Sebrae, instituições de ensino, marisqueiras e representantes da economia criativa para estruturar roteiros de experiência e fortalecer a renda da população local, hoje concentrada majoritariamente no litoral.
Gramado destaca continuidade, inovação e a força dos eventos
O vice-prefeito de Gramado, Luia Barbacovi, apresentou a evolução do destino serrano – hoje um dos casos mais emblemáticos de governança do país. Em 2023, Gramado recebeu cerca de 8 milhões de turistas; a projeção para 2025 é atingir 9 milhões. Segundo ele, os desafios começam pela própria geografia. “Temos 40 mil habitantes, não temos praia e estamos a mais de 100 km da capital. Mas aprendemos a transformar cada limitação em oportunidade”, disse.
Barbacovi explicou que a estratégia passa por três pilares: calendário de eventos robusto, integração entre interior e cidade e políticas inovadoras para desenvolver novos produtos turísticos. O município criou uma lei pioneira para atrair startups ligadas ao turismo, oferecendo suporte, testes e redução de barreiras burocráticas. O edital recebeu 26 inscrições, incluindo propostas da Itália e de Portugal; 14 projetos foram selecionados.
Ele também ressaltou que Gramado investe pesado em interiorização, com mais de 80% do território rural asfaltado, 110 agroindústrias e cinco rotas de agroturismo estruturadas. “Governança só existe quando a população se sente parte do processo. Gramado só funciona porque o turismo melhora a vida das pessoas e elas reconhecem isso”, completou.
São Paulo apresenta reposicionamento e foco em logística
Fechando o painel, Luís Sobrinho trouxe a visão do maior estado emissor e receptor do país. Consultor da InvestSP, ele destacou a continuidade das políticas públicas nos últimos oito anos como chave para o reposicionamento do estado no turismo de lazer.
“São Paulo sempre foi reconhecido como destino de negócios. Mas o estado tem 880 km de litoral, serras, vales, rios navegáveis, parques e o maior hub do hemisfério sul. Para transformar essa diversidade em produto turístico, precisávamos reorganizar a governança, envolver municípios e melhorar o acesso”, explicou.
O estado opera hoje com 14 aeroportos comerciais e mais de 5.100 voos semanais, impactando diretamente a conectividade nacional. A logística foi combinada com um robusto trabalho de mapeamento, fortalecimento dos Conselhos Municipais de Turismo e criação de produtos em segmentos como natureza, sol e praia, vinhos, cafés e serras.
“Governança não é uma cabeça pensante. São várias cabeças atuantes, pensando e fazendo ao mesmo tempo. Não existe desenvolvimento isolado: o turista que vem para Pernambuco, São Paulo ou Gramado está movendo a economia do Brasil”, afirmou.
