O debate sobre o futuro da aviação no Rio de Janeiro voltou ao centro das atenções após a Agência Nacional de Aviação Civil iniciar estudos internos para revisar a atual restrição de voos no Aeroporto Santos Dumont. A possibilidade de flexibilização da medida provocou reação imediata do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que classificou a iniciativa como um retrocesso e um risco à política pública adotada nos últimos anos para fortalecer o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Aeroporto Internacional do Galeão.
Desde 2023, o limite de operações no Aeroporto Santos Dumont foi implementado pelo governo federal com o objetivo de redistribuir a demanda aérea e recuperar a movimentação do terminal internacional, que vinha registrando queda significativa de passageiros e voos.
A insatisfação de Paes ganhou força após a circulação de informações sobre um despacho e uma reunião interna da Anac, realizados na semana passada, que analisariam a retomada de uma operação mais ampla no Santos Dumont. Segundo o prefeito, a eventual revisão ignora os efeitos positivos já observados no Galeão desde a adoção da política restritiva.
Em publicação nas redes sociais, Paes afirmou que a movimentação ocorre “às escuras” e contraria os interesses estratégicos da cidade e do país. Para ele, a concentração excessiva de voos no aeroporto central prejudica a conectividade internacional do Rio e enfraquece investimentos realizados para reposicionar o Galeão como principal hub aéreo do estado.
Outro ponto levantado pelo prefeito é que a discussão dentro da Anac estaria baseada nos mesmos parâmetros utilizados pelo Tribunal de Contas da União no acordo que viabilizou a relicitação do Galeão, prevista para 2026. Na avaliação de Paes, esse argumento seria contraditório, já que a decisão do TCU teve como um de seus pilares justamente a criação de mecanismos para preservar a política pública de fortalecimento do aeroporto internacional.
Segundo dados citados pelo prefeito, após o redirecionamento de voos autorizado pelo Ministério de Portos e Aeroportos, o Galeão registrou crescimento de 49,2% no número de passageiros entre 2024 e 2025, alcançando cerca de 17 milhões de usuários, resultado que ele atribui diretamente à restrição mantida no Santos Dumont.
O embate ganhou contornos ainda mais políticos quando Paes apontou publicamente a Latam Airlines como uma das interessadas na flexibilização da medida, sugerindo pressão das companhias aéreas para ampliar operações no aeroporto central. O prefeito também apelou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, para que acompanhem o tema de perto e impeçam mudanças que, segundo ele, atendam a “interesses no mínimo estranhos”.

