fortalecimento do peso frente ao dólar e a maior competitividade de preços em destinos internacionais, especialmente no Brasil, ampliaram o déficit da balança turística da Argentina em 2025. Entre janeiro e novembro, o país registrou a maior saída líquida de turistas para um período de onze meses desde o início da série histórica oficial, segundo dados do Indec.
No acumulado do ano, deixaram a Argentina 11,19 milhões de residentes, enquanto 4,78 milhões de turistas estrangeiros entraram no país. O saldo negativo foi de 6,41 milhões de pessoas, superando o resultado observado no mesmo intervalo de 2017 e se aproximando do pior desempenho anual da série, registrado em 2018. O dado ainda não inclui dezembro, tradicionalmente um mês deficitário para o turismo argentino.
A deterioração se intensificou em novembro, início da alta temporada. As saídas ao exterior somaram 763,7 mil pessoas, alta de 15,3% na comparação anual, enquanto as entradas de não residentes recuaram 2,7%, totalizando 491,3 mil visitantes. O déficit mensal chegou a 272,4 mil pessoas, crescimento de 73% em relação a novembro de 2024.
O movimento ocorre em um contexto de escassez de reservas internacionais e de política cambial restritiva do governo de Javier Milei, que tem buscado manter o câmbio sob controle. A decisão do governo de encerrar, a partir de janeiro de 2026, o financiamento das pesquisas oficiais de turismo internacional e ocupação hoteleira também reduz a disponibilidade de indicadores do setor.
Apesar do impacto econômico do turismo, que responde por cerca de 1,7% do PIB argentino, o país capta apenas 0,29% das receitas globais do turismo receptivo. O gasto médio por visitante é estimado em US$ 751 por viagem, abaixo do registrado em outros destinos da região, limitando a capacidade de compensar a saída de divisas.
Segundo a consultoria Equilibra, a eliminação prática do dólar cartão e a convergência das despesas turísticas ao câmbio oficial reduziram o efeito do câmbio real multilateral sobre o setor. Além disso, a diferença de preços favorece destinos internacionais. Enquanto cidades argentinas como Ushuaia, Villa Carlos Paz e Pinamar custam entre US$ 170 e US$ 250 por dia, destinos como Florianópolis e Santiago do Chile variam entre US$ 109 e US$ 147.
Nesse cenário, o Brasil consolidou-se como o principal beneficiário regional. Entre janeiro e novembro, o país recebeu mais de 9 milhões de turistas estrangeiros, recorde histórico, com a Argentina liderando como mercado emissor, somando 3,1 milhões de visitantes, alta de 82,1% em relação a 2024. Os turistas internacionais deixaram no Brasil US$ 7,17 bilhões no período.
A tendência reforça um padrão estrutural: a balança turística argentina foi deficitária em 42 dos últimos 49 anos. Em 2025, a combinação de câmbio valorizado, preços internacionais mais competitivos e mudança no comportamento de consumo ampliou a saída líquida de turistas e pressionou ainda mais as divisas do país.
*Com informações de O Globo







