À frente da R1 Soluções Visuais há quase 19 anos, Raffaele Cecere criou a empresa na garagem de sua tia, em um estilo à la Steve Jobs, fundador da Apple. Nesses anos, o empresário enfrentou diversas crises em nosso País, mas nenhuma como a da pandemia de Covid-19, que bloqueou a realização de eventos presenciais. Foi neste momento que ele precisou usar toda sua criatividade e apostar em novos formatos, como as lives e podcasts, tendo muito sucesso em suas empreitadas. 

Cecere conversou com exclusividade com o Brasilturis sobre esses e outros assuntos relacionados ao mercado de eventos.

Segundo o São Paulo Convention & Visitors Bureau, neste ano houve um aumento de 141% no número de eventos em São Paulo. O que esse número representa para a R1?

Essa é uma realidade. Acredito que, por conta da pandemia, houve um represamento gigante na parte de eventos e as pessoas começaram a fazer muitos eventos presenciais, assim como foram as lives durante a pandemia. Vivemos esse um ano e meio com resultados espetaculares, batendo todas as metas possíveis, adquirimos novas habilidades, fizemos novas parcerias, foi algo muito relevante.

Você acredita que continuará essa tendência no aumento do número de eventos?

Acredito que não. Estamos sentindo o segundo semestre de 2023 um pouco mais dentro da normalidade. Por incrível que pareça, os eventos presenciais viraram uma “novidade” no pós pandemia. Durante a pandemia nós achávamos que os eventos híbridos seriam a tendência, mas vimos que não, as pessoas estão apostando no presencial, pois eles têm os elementos que realmente são importantes para fechar um negócio. A experiência é muito diferente no presencial. 

Eu acho que, para 2024, há uma tendência em haver uma acomodação. Eu não sei precisar em relação a números, mas me arrisco a dizer que, em um ambiente bastante otimista, teremos um incremento de 10% a 15% em relação a 2023. Não será como antes, com os números dobrando ou triplicando, batendo meta no meio do ano. 

Outra questão é relativa à mão de obra. Infelizmente, o setor de eventos é muito informal. As pessoas encontram em eventos a mesma coisa que encontram como motorista de aplicativo, ainda são considerados subempregos, há a questão da informalidade. A pessoa perde o emprego e decide ir trabalhar com eventos, porque há a característica de que precisar, mais do que tudo, de disponibilidade e força de vontade. Mas, em uma visão de médio e longo prazo, é terrível para o mercado, porque vai haver uma pulverização muito grande: não tinha mão de obra e agora a gente vai ter uma super oferta. E isso não quer dizer que seja uma mão de obra qualificada.

No segundo momento temos uma super oferta de espaços para eventos. Tanto na oferta de mão de obra quanto dos espaços, alguns conseguirão se estabelecer e outros não. Não há uma competição de igual para igual, pois há muita informalidade. As empresas contratantes precisam ficar atentas a esse tipo de situação, não fazer eventos de qualquer jeito, em espaços, onde, por exemplo, não tem segurança nem alvará, pois não podemos retroagir.

Durante a pandemia, a R1 teve que se reinventar e realizou muitos eventos online. Como foi esse período?

O primeiro ponto é deixar claro que a pandemia foi nossa maior crise. Não apenas para a gente, mas para o mundo inteiro. O que nós fizemos, na verdade, foi uma estratégia de sobrevivência. Os eventos online são mais difíceis de serem realizados. Por quê? Porque evento é algo ao vivo e uma série de coisas podem acontecer. Mas, quando são presenciais, é mais fácil contornar essas situações. Por exemplo, se cair a energia durante um evento presencial, podemos interromper e convidar as pessoas a tomarem um café. Mas e no online? Se acabar a energia e cair o link, acabou o evento. 

Eu brinco que a gente teve que aprender a jogar vôlei com bola de basquete. E isso doeu. Agora que estamos jogando vôlei com a bola correta, estamos calejados, ficou fácil. Durante a pandemia, além de termos essa movimentação, também tínhamos o medo de contrair Covid-19, tivemos que tomar uma série de cuidados. 

A gente já tinha um breve histórico de eventos online por conta da H1N1 em 2009, mas naquela época, a situação foi muito rápida, não teve a proporção que teve agora.

Acho que tivemos sucesso por conta da rapidez e de nossos parceiros, como o WTC, que abriram as portas para montarmos estúdios e acreditaram no que estávamos fazendo. 

Estávamos em um dilema, pois não tínhamos trabalhos e nem dinheiro entrando, então não tínhamos capital para investimento. No caso da R1, fizemos uma adaptação, já tínhamos muitos dos equipamentos para atender os clientes. 

A R1 completa 19 anos em 2023. Qual o seu balanço desse período?

Quem me conhece sabe um pouco da minha história. Eu comecei de forma muito similar ao Steve Jobs, na garagem da casa da minha tia, com poucos recursos. Foi uma aventura muito louca. Não sei nem explicar o quão difícil é ter uma empresa no Brasil e conseguir consolidar uma marca.

A pandemia nos mostrou como estávamos maduros. Porque já passei pela crise de 2008, crises internas, pelo impeachment da Dilma. São crises atrás de crises no Brasil e tivemos um exercício diário, além de muita resiliência. Eu tenho uma equipe muito boa.

Quais são as projeções para o futuro?

O lançamento da R1 Pro é uma consolidação de tudo isso que estamos conversando. Agora, queremos a consolidação da marca e continuar crescendo de uma forma sustentável. Como o próprio nome diz é algo superior, mais avançado, temos uma equipe especializada para eventos com uma complexidade maior, que exigem know-how em determinadas situações.

Quais são as tendências para o setor de audiovisual?

Temos uma tendência que está bastante em alta, que foi reforçada na pandemia por conta dos estúdios, que é a utilização de painéis de LED. Acho que vamos ver, daqui para frente, a mistura de tecnologias, como a do painel de LED, dando um charme de experiência para dentro do evento. Acho que os eventos vão estar mais bem produzidos, com uma característica de festival. 

Agora, as pessoas não querem mais apenas ver um show. Querem ter uma experiência. E aí entra a empresa, para colocar um telão diferenciado, uma piscina diferente. O nosso trabalho, muitas vezes, é desconstruir e mostrar as possibilidades.