Bem como uma pandemia repentina e mortal para mais de seis milhões de pessoas, a guerra na Ucrânia traz, gradativamente, seus impactos negativos ao turismo. Se não bastassem as mortes de civis e cidades tomadas por tropas militares da Rússia, o conflito gera dúvidas quanto à economia mundial e, por consequência, a diversos setores. Mesmo que a atual crise represente a ponta de um iceberg distante para alguns países, os resquícios geopolíticos alertam para mais um período de dificuldades e busca por melhoria.
A constatação é de Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP e pesquisadora de Turismo da Universidade de São Paulo (USP). Procurada pela reportagem do Brasilturis Jornal, a especialista citou como o conflito na Ucrânia, tal qual a covid-19, mostra a ligação da atividade turística com acontecimentos mundiais.
“É um setor que faz parte de um sistema grande de interligações. Por isso, é comum que em casos assim, nos quais a ordem social recebe interferência, existam consequências, diretas ou indiretas, no turismo”, explica.
Um exemplo já conhecido de impacto gerado pela atual guerra, citado por Mariana, é o do aumento nos preços de commodities. Os produtos de exportação agropecuária ou mineral, como soja e petróleo, visitam tempos sombrios e com altas constantes. Somente na madrugada de domingo (6) para segunda-feira (7), por exemplo, o preço do barril de petróleo chegou próximo a US$ 140.
Brasil e Ucrânia: histórias cruzadas
Na última quinta-feira (3), o euro alcançou a cotação mais baixa frente o dólar em dois anos. A notícia acionou o alerta do turismo e, com a reabertura quase completa dos destinos no Velho Continente, o câmbio de 1 euro à R$ 5,55 causa interesse, mas até que ponto?
“O Brasil e o viajante nacional precisam ter compreensão sobre os acontecimentos mundiais. A curto prazo, pode ser que o euro e o dólar mais baratos despertem o desejo por atrações internacionais, mas é um resultado pífio e que diz pouco ou quase nada. Pode não parecer algo que afete, mas quanto mais perdurar a guerra na Ucrânia, mais vamos perceber os impactos, indiretos e negativos, no turismo”, diz.
Outro exemplo palpável está no transporte, tendo em vista que o turismo de proximidade, principalmente por vias terrestres, era desenhado para o pós-pandemia como tendência – inclusive no Brasil.
A visita às cidades vizinhas ou que exigem poucas horas de estrada tende a sair mais cara com os aumentos sucessivos no valor do combustível. A gasolina comum em São Paulo (capital) já passa, em algumas regiões, dos R$ 7, enquanto a Bahia relata o preço a R$ 8.
Ao setor turístico B2B, ou seja, corporativo, a aviação também se torna um elo fraco com o contexto da guerra na Ucrânia.
Além do prejuízo logístico na ligação entre Ásia e Europa, tendo em vista que evitar o espaço aéreo russo pode significar horas a mais de voo, o valor das passagens é 40% constituído pelo custo de combustível das companhias aéreas. Na prática, a operação das frequências e o preço dos bilhetes ficam mais caros.
Para completar a bagunça no céu, empresas importantes como Saber e Amadeus também suspenderam a comercialização e operação de voos da Aeroflot, empresa aérea da Rússia. Como esperado, em junção às sanções econômicas colocadas por EUA, Reino Unido e outras nações, o país cria o próprio exílio aéreo e prejudica a atividade turística.
O que falta
Apesar das menções sobre alta em produtos e no produto final (turismo nas cidades), a maior falta trazida pela invasão russa é o censo comum. Na visão de Mariana, enxergar o todo têm sido uma dificuldade para o setor turístico em geral desde março de 2020, quando a covid-19 tomou proporções mundiais.
“Quando a inflação bate, mesmo que você ainda tenha dinheiro para gastar, as viagens ficam mais caras. Portanto, não é viável para ninguém: fornecedores aumentam o preço e o produto fica mais caro. Logo, o consumidor tem menos dinheiro para gastar. Portanto, o câmbio mais baixo de euro e dólar ante real em nada agrega ao turismo no cenário atual. Apesar da obviedade da frase, nunca é repetitivo reafirmar: não existem pontos positivos em guerras”, finaliza.
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