Há muito tempo, o Turismo no Brasil trava uma árdua batalha para conquistar o número de turistas internacionais que merece, considerando a enorme variedade de atrativos únicos espalhados por toda a extensão continental do País. No final de 2024, o setor comemorou um novo marco nessa luta ao receber mais de 6,65 milhões de visitantes estrangeiros.
O número bate o recorde de 6.62 milhões de turistas internacionais registrado em 2018, ano que até então marcava o maior valor da série histórica iniciada em 1970. Com isso, após a crise do setor devido a pandemia de Covid-19, o Brasil dá seu primeiro grande passo em direção às metas do Plano Nacional de Turismo (PNT), que prevê atingir 8,1 milhões de visitantes internacionais nos próximos três anos.
Marcelo Freixo, presidente da Embratur, atribui o crescimento ao esforço de projeção internacional do País. “Esse é um resultado do Brasil que voltou e passou a ser protagonista internacionalmente como um país que exerce liderança no debate sobre o futuro do planeta com responsabilidade climática, respeito aos direitos humanos e defesa da democracia. O governo federal reconectou o nosso país com o mundo e com papel de destaque global”, afirma o presidente da agência de promoção internacional.
Freixo também ressaltou que a realização de eventos como a COP-30, em Belém, a presidência dos Brics e do G20, além da Copa do Mundo Feminina de Futebol em 2027, além de outras iniciativas para impulsionar o setor. Entre elas, está o Programa de Aceleração do Turismo Internacional (PATI) que, segundo o presidente da Embratur, resultou no incremento planejado de demanda de turistas interessados em visitar o Brasil com uma oferta crescente de voos e pacotes, inserindo os atrativos nacionais nas prateleiras das principais agências de Turismo do mundo.
“É importante destacar o papel que cumprimos de facilitar conexões entre o setor privado nacional e internacional para a geração de novos negócios, além de estabelecer parcerias que se convertem em mais investimentos no Turismo”, pontua Freixo. Ele explica ainda que a agência organiza reuniões entre ministérios, estados e municípios, companhias aéreas, aeroportos, associações e DMCs, visando fomentar investimentos alinhados a uma estratégia conjunta e estruturada em dados e inteligência.
Tais esforços resultaram no aumento de 19% no número de novos voos em 2024, estabelecendo um recorde histórico de conectividade e projetando crescimento para 2025. “É um resultado muito expressivo em um momento em que o mercado aéreo possui um claro limite ao crescimento de novas rotas, devido à oferta limitada de novas aeronaves”, argumenta Freixo.
Infraestrutura aeroportuária
O aumento no fluxo de turistas também levanta questões sobre a capacidade de absorção dos aeroportos brasileiros. No geral, as principais portas de entrada de turistas estrangeiros no País registraram crescimento na movimentação de voos e passageiros, incluindo quebra de recordes históricos. Como resposta a tais resultados, as administradoras e concessionárias dos terminais aéreos brasileiros estão investindo grandes fortunas em melhorias na infraestrutura aeroportuária, visando expandir a capacidade operacional e proporcionar maior conforto aos passageiros.
CCR Aeroportos
A CCR Aeroportos, por exemplo, revela que os 20 terminais administrados pela concessionária movimentaram 45,4 milhões de passageiros em 2024, 7% a mais que no ano anterior. “Esse crescimento é fruto de um trabalho contínuo de Desenvolvimento de Rotas e do nosso foco em elevar o padrão de qualidade em nossos aeroportos”, afirma Monique Henriques, diretora comercial da CCR Aeroportos.
A executiva revela que, desde 2022, a empresa está investindo cerca de R$ 2 bilhões em obras de infraestrutura em 16 dos aeroportos administrados no Brasil. Entre as principais melhorias, estão a construção da terceira pista de pousos e decolagens no Aeroporto Internacional de Curitiba (PR), a modernização do Aeroporto de Teresina (PI), que agora conta com novos fingers, e do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Navegantes (SC), importante atrativos como Beto Carrero World e Balneário Camboriú.
“Notamos que, cada vez mais, o passageiro valoriza a experiência de viagem”, pontua Monique, que cita também os investimentos na melhoria da climatização em aeroportos localizados em regiões de altas temperaturas, como São Luís (MA) e Palmas (TO). A empresa tem investido na ampliação de salas de embarque e áreas de check-in, bem como na atração de novas lojas e serviços oferecidos dentro do aeroporto, como o de Goiânia (GO), que triplicou o número de opções de alimentação em três anos.
GRU Airport
No começo deste ano, o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), celebrou seu aniversário de 40 anos batendo recordes históricos ao transportar 43,6 milhões de passageiros em 2024. Em função disso, a concessionária GRU Airport anunciou o investimento de R$ 1,4 bilhão em obras de ampliação e modernização de sua infraestrutura.
O pacote abrange a revitalização do Terminal 2, com a ampliação da sala de embarque no lado oeste, revitalização de toda a arquitetura, reformas de todos os banheiros, melhorias nas vias de embarque e desembarque, além da criação de novas faixas de acesso para veículos e implantação de uma praça dedicada ao embarque e desembarque de passageiros de transporte por aplicativo.
O investimento também inclui a ampliação dos Terminais 2 e 3, com construção de novos píeres, totalizando mais de 70 posições de embarque. As áreas operacionais ganharão novos pátios com mais 29 posições para aeronaves, que chegarão a 141. Também serão instalados novos equipamentos automatizados de controle migratório (e-gate), de raio-x e de check-in, além da ampliação do sistema de bagagens, entre outras melhorias.
NOA
Entre os aeroportos da região Norte, administrados pela Norte da Amazônia Airports (NOA), o Aeroporto Internacional de Belém (PA) alcançou um recorde histórico de 4,1 milhões de passageiros em 2024, um crescimento de 15% em relação a 2023. O terminal paraense também celebrou o aumento de 61% no número de voos para o exterior, reforçando a posição de Belém como ponto estratégico para conexões internacionais.
Marco Antônio Migliorini, CEO da NOA, enfatizou que a modernização do terminal e a ampliação da área de embarque são passos essenciais para atender à crescente demanda e preparar o aeroporto para eventos globais como a COP-30. “Essas iniciativas têm impacto direto na experiência dos passageiros e no desenvolvimento do Turismo regional”, afirmou. As intervenções incluem triplicar a área de embarque, ampliar a capacidade de atendimento, implantar um novo sistema de climatização, expandir a área comercial e aumentar a eficiência e segurança operacional.
“Já no Aeroporto Internacional de Macapá, os investimentos têm como foco principal o aumento da segurança e eficiência operacional, reforçando o compromisso com a qualidade do serviço”, acrescenta o executivo. Além disso, o terminal agora conta uma nova rota direta da Latam para Guarulhos (SP), ampliando a conectividade da capital do Amapá a um dos principais hubs do país.
COA
Já os terminais da Centro-Oeste Airports (COA) movimentaram 3,2 milhões de passageiros em 2024. O Aeroporto de Sinop (MT) foi destaque alcançando a maior marca de passageiros de sua história, com crescimento de 15% em relação a 2023, com um terminal três vezes maior após a recente inauguração. Em 2024, os terminais de Alta Floresta (MT) e Rondonópolis (MT), também concluíram a construção de seus novos terminais de passageiros.
O executivo conta que a empresa modernizou os quatro aeroportos em Mato Grosso, incluindo o Internacional de Cuiabá (MT), que passou a operar voos internacionais, incluindo operações comerciais regulares, charter, de carga e táxi-aéreo. “Investimos em instalações modernas, espaços ampliados, maior conforto térmico e um mix comercial diversificado, garantindo uma experiência diferenciada aos passageiros”, explicou Marco Antônio Migliorini, CEO da COA.
Infraero
Em resposta ao crescimento do fluxo de passageiros, a Infraero tem priorizado a modernização e ampliação da infraestrutura nos aeroportos sob sua gestão. Entre as obras recentes estão a reforma do Terminal de Passageiros de Mossoró (RN), o alargamento da pista do Aeroporto de Canela (RS), a ampliação da sala de embarque de Ipatinga (MG) e as obras em curso para expansão das salas de embarque e desembarque em Divinópolis (MG).
Apesar de vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos, a empresa pública mantém parcerias com o Ministério do Turismo, Embratur e entidades privadas para impulsionar o Turismo e a infraestrutura aeroportuária. Para os próximos anos, os planos incluem consolidar a aviação regional como meio de integração e desenvolvimento econômico, além de expandir a atração de turistas para destinos estratégicos.
A Infraero, que administra 35 aeroportos no Brasil, como o Santos Dumont (RJ), reconhecido pela Cirium como um dos mais pontuais do mundo, também prioriza a modernização contínua de terminais, incluindo soluções digitais e operacionais, alinhada à estratégia federal para o setor.
Fraport Brasil
Quanto aos Aeroportos de Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE), administrados pela concessionária Fraport Brasil, ainda não atingiram os níveis pré-pandemia de 2019. “A infraestrutura de ambos os aeroportos está preparada para receber mais voos e passageiros, sem restrições de capacidade. Nosso objetivo para 2025 é intensificar o atendimento a esse fluxo crescente, garantindo uma experiência de qualidade e consolidando o papel dos aeroportos no Turismo nacional e internacional”, declara Rafael Guerra, gerente de Comunicação e Marketing da Fraport Brasil, concessionária dos Aeroportos de Porto Alegre e Fortaleza.
Em Porto Alegre, o foco tem sido na reconstrução e atualização do terminal, após os impactos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado. O aeroporto inaugurou novas operações comerciais e pontes de embarque, conforme previsto no plano de melhorias. O terminal de Fortaleza também recebeu um aumento significativo de novas operações comerciais nos últimos meses, atingindo altos níveis de satisfação dos passageiros.
Para ambos os terminais, a Fraport tem se concentrado no desenvolvimento de novas rotas e na ampliação de frequências, por meio de um trabalho conjunto com as companhias aéreas, governos estaduais e secretarias de Turismo. “Além disso, buscamos maior visibilidade para os destinos atendidos, promovendo as regiões turísticas do Rio Grande do Sul e Ceará. Esse trabalho conjunto é fundamental para ampliar o número de voos, rotas e, consequentemente, passageiros”, conclui.
Aena
Batendo recorde de 438 milhões de passageiros em sua rede global, a Aena movimentou 43,3 milhões de passageiros nos 17 aeroportos administrados no Brasil. O resultado representa um crescimento de 5,6% em relação ao ano anterior, com mais de 480 mil pousos e decolagens. O destaque fica para o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), com 23,1 milhões de viajantes em 2024, aumento de 4,5% em relação ao ano anterior.
Já o Aeroporto Internacional do Recife (PE) bateu seu recorde histórico em 2024, ao movimentar 9,6 milhões de passageiros, alta de 6,1% frente a 2023. Os terminais de Maceió (AL) e João Pessoa (PB) também conquistaram incrementos expressivos de 14,2% (2,7 milhões de passageiros) e 12,2% (1,6 milhão de viajantes), respectivamente. Em termos percentuais, no entanto, o Aeroporto de Uberava teve o maior crescimento, com alta de 22% (100,2 mil), seguido de Carajás com um aumento de 21,9% (216,8 mil), e Santarém, que teve acréscimo de 17,9% (523,7 mil).
Marcelo Bento, diretor de Relações Institucionais, Comunicação e ESG da Aena Brasil, conta que a concessionária tem se preparado para seus aeroportos crescerem. “Em 2024, com investimentos de R$ 2,4 bilhões em obras, equipamentos e sistemas, foram concluídas as entregas das melhorias estruturais dos seis aeroportos que administramos no Nordeste. Quanto ao bloco SP/MG/PA/MG serão destinados R$ 4,5 bilhões em obras a serem entregues ao longo dos próximos três anos”, revela o executivo.
Desse valor, o Aeroporto de Congonhas sozinho conta com investimento de R$ 2,4 bilhões para transformá-lo em um terminal de padrão internacional. Em dezembro passado, conforme publicado pelo Brasilturis na edição de janeiro deste ano, foi realizada a cerimônia de Pedra Fundamental das obras do aeródromo. As obras incluem dobrar o tamanho do terminal, com novas áreas operacionais e comerciais, além de equipamentos, tecnologias e sistemas modernos. Congonhas também terá 19 fingers e pontos de parada adaptados para modelos de maior capacidade, como o Airbus A321neo e o Boeing 737 Max 10.
Expectativas para 2025
Com as projeções otimistas para o Turismo, a Embratur espera um verão recorde, com aumento de 27,2% no fluxo de visitantes em comparação ao período anterior. Freixo destaca ainda que, entre dezembro e março, foram vendidas 1 milhão de passagens para o Brasil.
Para amplificar tais resultados, a agência montou uma programação robusta e estratégica de promoção do Brasil no exterior, com participação em feiras internacionais, realização de press trips e famtours em locais e momentos estratégicos. Há ainda o lançamento do novo Plano de Marketing Turístico Internacional do Brasil para o período de 2025 a 2028, atualização que não ocorre há 15 anos, e responde às transformações no cenário turístico global.
“Renovamos nosso acordo de cooperação técnica com a Associação Aeroportos do Brasil (ABR), que trabalha junto conosco na atração de voos internacionais nos principais eventos do segmento no mundo”, conta Freixo. Entre as ações previstas, estão o compartilhamento de dados e informações, divulgação da Marca Brasil nos aeroportos, além de iniciativas para melhorar a experiência do turista internacional nos aeroportos.
“A maioria dos aeroportos do Brasil estão bem estruturados e preparados para receber o turista internacional”, afirma Freixo. No ano passado, a empresa AirHelp divulgou um ranking que coloca dois aeroportos do Brasil entre os 10 melhores do mundo: Brasília e Belém. Uma pesquisa recente do Ministério dos Portos e Aeroportos também mostra que 93% dos passageiros brasileiros atribuíram nota boa ou muito boa aos 20 maiores terminais do País.
“Temos diversos grandes eventos internacionais agendados para este ano que também contarão com atuação da Embratur para reforçar o Brasil como um país acolhedor, da alegria, que valoriza a diversidade, nossa cultura e que respeita nosso meio ambiente e nossas comunidades”, finaliza o presidente da Embratur.
Agenda