O Airbnb voltou a criticar o setor hoteleiro, atribuindo aos hotéis grande parte da responsabilidade pelo avanço do turismo de massa nas dez cidades mais visitadas da União Europeia, entre elas Lisboa, Paris, Roma, Barcelona e Amsterdã. Segundo a plataforma, os hotéis concentram quase 80% das dormidas nesses destinos, pressionando os centros urbanos e contribuindo diretamente para os impactos negativos do chamado over tourism.
A acusação foi feita por meio de um comunicado oficial, no qual o Airbnb pede que os governos e lideranças dessas cidades “abordem o impacto devastador dos hotéis no aumento do excesso de turismo”.
Como exemplo, a empresa cita as situações de Lisboa, especialmente na freguesia de Santo António, e Praga, onde a relação é de aproximadamente três quartos de hotel para cada cinco residentes locais. O alerta surge em um cenário no qual, de acordo com dados do Eurostat e da Organização Mundial do Turismo (OMT), a União Europeia ultrapassou a marca de 3 bilhões de noites em acomodações turísticas em 2023, registrando um novo recorde histórico.
O Airbnb também destaca a crescente expansão do setor hoteleiro na Europa. Só em 2023, 289 novos hotéis foram inaugurados, totalizando mais de 38 mil quartos. O ritmo deve se intensificar até o fim de 2024, com 1.661 projetos hoteleiros em andamento, que somam quase 250 mil novos quartos, muitos deles concentrados em destinos de grande apelo turístico, como Madri, Lisboa e Porto.
“A Europa precisa de mais casas — não hotéis —, mas as cidades estão construindo mais hotéis, enquanto a construção de moradias atinge o nível mais baixo da última década”, afirma a plataforma.
O levantamento aponta ainda que, entre 2021 e 2023, as pernoites nas dez cidades mais visitadas da UE cresceram em mais de 200 milhões, sendo que 75% desse crescimento ocorreu na hotelaria tradicional.
Na contramão, o Airbnb defende que sua operação oferece impacto econômico mais distribuído. A plataforma afirma que, para cada euro gasto com hospedagem no Airbnb em Portugal, outros 2,5 euros são gerados em restaurantes, comércios e serviços locais. Além disso, destaca que 59% das estadias realizadas pela plataforma ocorrem fora dos centros urbanos, o que ajudaria a desconcentrar o fluxo turístico e aliviar a pressão sobre áreas históricas.
O comunicado também critica outros segmentos que impulsionam o turismo de massa, como as companhias aéreas e os cruzeiros, que, segundo o Airbnb, têm papel relevante no aumento da movimentação nos centros históricos. A empresa cita que, entre 2022 e 2023, o número de passageiros de cruzeiros aumentou em mais de 50% em cidades como Lisboa, Amsterdã e Barcelona. Na capital portuguesa, o crescimento foi de 54%, atingindo a marca recorde de 758.328 passageiros desembarcando de cruzeiros no período.
A crítica do Airbnb reacende o debate sobre os impactos do turismo nas grandes cidades europeias, colocando frente a frente os modelos de hospedagem tradicional e as plataformas de aluguel de curto prazo, que também são alvo frequente de críticas por parte de governos locais e setores da hotelaria.