Após crescimento expressivo no primeiro trimestre de 2025, o Brasil registrou recuo na entrada de turistas provenientes de Estados Unidos, Canadá e Austrália entre abril e junho. A reversão da tendência coincide com a retomada da exigência de vistos para cidadãos desses países, em vigor desde 10 de abril, conforme decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo dados da Embratur, com base em informações da Polícia Federal e do Ministério do Turismo (MTur), o número de visitantes desses três países cresceu 25,3% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, saltando de 255,5 mil para 320,2 mil pessoas. Já no segundo trimestre, com a nova regra em vigor, o fluxo caiu de 177,5 mil, em 2024, para 176,5 mil, em 2025 — uma retração de 0,6%.
Os Estados Unidos seguem como principal emissor entre os três países, com 410 mil visitantes no primeiro semestre. O número representa 83% do total de turistas vindos de EUA, Canadá e Austrália no período, e cerca de 8% dos 5,3 milhões de estrangeiros que visitaram o Brasil entre janeiro e junho deste ano.
Isentar ou não?
A retomada da exigência de vistos foi justificada pelo governo brasileiro com base no princípio da reciprocidade. A isenção unilateral — adotada em 2019, no governo anterior — não resultou em contrapartida por parte dos países beneficiados. Posteriormente, o Japão foi o único a aderir à suspensão mútua, enquanto Estados Unidos, Canadá e Austrália mantiveram a exigência para brasileiros.
A medida, no entanto, encontrou resistência no Congresso Nacional. Em resposta, parlamentares aprovaram no Senado um projeto para derrubar a exigência, sob o argumento de que a burocratização pode afetar negativamente setores do turismo, como hotelaria, alimentação e transporte. O projeto aguarda tramitação na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, sob relatoria do deputado Marcel Van Hatten (Novo-RS), e não tem prazo definido para votação.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ), autor do projeto, afirmou que a decisão do governo prejudica estados e municípios que dependem economicamente da atividade turística. “O presidente exorbita do seu poder ao revogar a isenção de vistos. Isso cria mais burocracia para o turismo”, declarou.
O Ministério das Relações Exteriores, por outro lado, defende a exigência. Em nota encaminhada ao Senado, técnicos do Itamaraty afirmaram que a medida está em linha com a política migratória brasileira, pautada pela reciprocidade e igualdade de tratamento. Também alegaram que a isenção implementada anteriormente não resultou em aumento relevante do número de visitantes.
De acordo com a Polícia Federal, cidadãos dos quatro países — EUA, Canadá, Austrália e Japão — representaram 8,8% do total de visitantes estrangeiros em 2019. Em 2024, o percentual foi de 8,4%. Além disso, o Itamaraty argumenta que a taxa de aproximadamente US$ 80 cobrada para a emissão do visto não tem impacto no Orçamento Geral da União, pois é destinada ao orçamento próprio do ministério.
Vale dizer também que, com o recente aumento de R$ 320 a R$ 2.349, o visto americano se torna o mais caro da história.