por Ricardo Shimosakai
Pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) frequentemente enfrentam dificuldades em ambientes novos ou imprevisíveis, características comuns em experiências turísticas. Locais como parques temáticos, museus ou destinos naturais podem ser barulhentos, lotados ou visualmente intensos, o que, para muitos autistas com hipersensibilidade sensorial, pode causar desconforto ou crises. Viagens também costumam envolver alterações na rotina diária, como mudanças nos horários de sono, alimentação ou atividades, algo que pode ser desafiador para pessoas que dependem de rotinas previsíveis para se sentirem seguras.
Além disso, o Turismo frequentemente exige interações sociais com guias, outros turistas ou funcionários de hotéis e atrações, o que pode gerar ansiedade para autistas que enfrentam dificuldades na comunicação social. Imprevistos, como atrasos em voos, mudanças climáticas ou alterações no itinerário, são outro obstáculo, já que a imprevisibilidade pode ser particularmente estressante. Muitos destinos turísticos ainda não estão preparados para atender às necessidades de pessoas autistas, seja por falta de treinamento da equipe, ausência de informações claras ou ambientes não adaptados.
Aos poucos, iniciativas são criadas para incluir pessoas com autismo na sociedade e em atividades turísticas. O cordão de girassol, uma iniciativa do Aeroporto de Heathrow em Londres, se tornou um símbolo para identificar essas pessoas, uma vez que o autismo pode ser uma deficiência invisível. Alguns ambientes barulhentos criaram salas do silêncio para ajudar a aliviar pessoas autistas do estímulo exagerado do local, como o Aeroporto de Congonhas e o Parque da Mônica. Existem sessões de cinema chamadas Sala Azul, preferencialmente voltada a autistas, onde qualquer crise ou interrupção será compreendida pelas pessoas da sala.
Nos Estados Unidos, o programa “Certified Autism Center” certifica destinos e empresas que oferecem acessibilidade, como o Sesame Place, na Pensilvânia, o primeiro parque temático a receber essa certificação, com áreas sensoriais e treinamento especializado. Na Austrália, a Qantas Airways desenvolveu um programa piloto em parceria com organizações de apoio ao autismo, oferecendo simulações de viagens aéreas para pessoas com TEA. Essas simulações permitem que os passageiros experimentem o ambiente do aeroporto e do avião em um contexto controlado, familiarizando-se com sons, procedimentos e espaços antes da viagem real.
No Reino Unido, o Museu de Londres implementou o programa “Morning Explorers”, que organiza sessões exclusivas para famílias de crianças autistas. Essas visitas ocorrem em horários de menor movimento, com iluminação reduzida e menos ruídos, criando um ambiente de baixa estimulação sensorial. O museu também fornece mapas sensoriais e recursos visuais para preparar os visitantes, além de atividades adaptadas que respeitam diferentes formas de interação.
O turismo é um direito de todos, com poder de transformar a sociedade. Incluir pessoas com autismo ou outras pessoas com deficiência, além de ser uma importante ação social, também é uma ótima oportunidade de negócio.