Em seis meses, o dólar teve uma queda expressiva de quase 15%, indo de R$ 5,48 no início de janeiro para R$ 4,77 na última semana de junho. O câmbio não tinha uma baixa consistente desde o início de 2020 e a nova queda contínua representa impactos diretos no turismo, principalmente aquele ligado às relações profissionais.

“Quando falamos de um país como o Brasil, de dimensões continentais, o que rege o mercado de viagens, está sempre ligado à capacidade das pessoas de ir e vir, por isso o transporte aéreo tem um peso importante para as empresas em relação ao planejamento das viagens de seus colaboradores”, explica Luiz Moura, diretor de negócios da agência de viagens corporativas Voll e conselheiro de turismo da Fecomércio-SP.

A variação do câmbio afeta diretamente no valor das passagens aéreas, não só para quem faz viagens internacionais. Isso ocorre, principalmente, porque o combustível usado nas aeronaves, o querosene de aviação (QAV), é comercializado em dólar e corresponde a 30% do valor total das passagens.

É notório, em 2023, que o volume de negócios feitos em viagens tem sido muito grande e reflete uma retomada acelerada. O último Levantamento de Viagens Corporativas (LVC) demonstra que, em março deste ano, as despesas estimadas das empresas brasileiras com viagens de negócios registraram crescimento de 17% em comparação com o mesmo período de 2022, atingindo faturamento de R$ 9,5 bilhões, o mais alto para o mês desde 2015. As informações são da pesquisa feita pela FecomercioSP em parceria com a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV).

Considerando o volume total de viajantes, a trabalho e a lazer, o Brasil bateu outro recorde que não se via desde 2015, ao transportar 7,3 milhões de passageiros em maio deste ano, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “Temos observado alta não apenas dos números de turistas fazendo reuniões e acordos presenciais, mas também da crescente demanda por eventos presenciais que voltam com força total”, avalia Eduardo Vasconcellos, diretor financeiro da Voll.

“Em muitos países, a presença física do profissional é indispensável para o sucesso de acordos, por isso quando acontece baixa no valor das passagens aéreas observada pela queda do câmbio do dólar, as companhias têm chances de ampliar seus negócios ao enviar ao exterior mais colaboradores para negociações ou mesmo aumentar os dias de permanência daqueles que já estavam designados a algum objetivo”, explica Vasconcellos.

Para viabilizar isso, empresas têm trabalhado com o incentivo à conscientização para que os colaboradores foquem no planejamento das viagens. “É fundamental organizar a agenda corporativa para que encontros e eventos presenciais com times de outros países não sejam realizados em períodos de alta demanda, como feriados regionais, por exemplo. Por isso, sugerimos que os gestores de viagens adotem campanhas de comunicação interna de engajamento dos líderes para o acompanhamento próximo dos orçamentos das viagens corporativas no segundo semestre”, pontua Vasconcellos.

Nos casos em que a alteração no valor da passagem ainda não tenha sido percebida, as empresas tendem a ser estratégicas e buscam alternativas para além do transporte aéreo. Alguns dos mais de 300 clientes da Voll têm estudado a possibilidade de migrar certas viagens de curta e média duração de sua equipe do transporte aéreo para o rodoviário. “Em alguns casos, vale a pena porque mesmo que a viagem seja de automóvel alugado ou de ônibus, o colaborador economiza o tempo de espera nos aeroportos, o que pode ser desgastante”, elucida o diretor financeiro da Voll.

No entanto, dificilmente o destino será alterado, o que muda é a forma do colaborador se locomover e como os planos de viagens são feitos. “São Paulo, por exemplo, é um destino certo para negócios, mas para economizar há alternativas viáveis e práticas que as companhias podem aderir, como adaptar normativas internas para que as emissões de passagens aéreas sejam realizadas com um período de antecedência maior, e se apropriar de tecnologias que facilitem e deem transparência ao processo, por exemplo”, conclui Vasconcellos.


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