Dez anos atrás, um estudo da Oxford Economics já apontava a Ásia como o motor do Turismo mundial para a década seguinte – visto que 2013 foi o ano que registrou o maior percentual de crescimento até então (6%). Hoje, é possível ver que essa previsão não só se concretizou como ficou ainda mais em evidência no pós-pandemia, conforme destinos do Japão, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, Tailândia e Emirados Árabes avançam em rankings de mais procurados.

Para se ter uma ideia do aumento no interesse, Bangkok (Tailândia), ficou em primeiro lugar na lista de destinos mais buscados para o verão do hemisfério Norte (julho a agosto) – destronando Paris (França) do ranking da Foward Keys. Diversos outros destinos asiáticos também escalaram ao top 20, como Denpasar (Indonésia), que conquistou a 4ª posição. Tóquio (Japão), por sua vez, subiu 53 lugares para 13º, Kuala Lumpur (Malásia), passou para 14º, Cingapura, avançou 14 lugares para 12º e Manila (Filipinas), que conquistou oito lugares, chegando em 19º.

No mesmo ranking, a lista dos dez melhores aumentos é dominada por cidades asiáticas, com destaque para Taipei (Taiwan), que subiu 161 lugares para 56º, e Hong Kong (China), ultrapassando 129 posições para 39º. Além de Tóquio e Kuala Lumpur, Seul (Coréia do Sul) avançou 56 lugares para 35º, Hanói (Vietnã), passou 41 lugares para 76º, Ho Chi Minh City (Vietnã), conquistou 30 lugares para 52º, e Phuket (Tailândia), subiu 24 lugares para 57º.

Não se trata apenas de intenção, pois esses números também se refletem no aumento no número de chegadas de turistas internacionais na região. No caso do Japão, por exemplo, o mês de outubro foi o primeiro a registrar mais turistas que antes da pandemia (2,5 milhões de visitantes internacionais), segundo dados da Organização Nacional de Turismo Japonês (JNTO). Com o fim tardio das restrições sanitárias, o país asiático vem se organizando para acolher cada vez mais turistas estrangeiros, com incentivos a atividades culturais, de aventura e contato com a natureza, além da isenção de visto e assistência gratuita para para cidadãos brasileiros planejarem suas viagens pelas terras nipônicas.

Apesar de ser um universo à parte, a maior parte dos países do Oriente Médio também faz parte da Ásia. Isso inclui os Emirados Árabes Unidos e sua luxuosa Dubai, que foi apontada pelo segundo ano seguido como o destino global número um pelos viajantes no Tripadvisor Travellers’ Choice Awards. Só nos primeiros seis meses de 2023, o emirado recebeu 8,55 milhões de visitantes internacionais e registrou uma das maiores taxas de ocupação hoteleira do mundo (78%). O destino também tem se destacado no mercado brasileiro, registrando aumento de 19% no número de turistas em relação aos períodos pré-pandêmicos.

De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT), a região da Ásia e Pacífico tem liderado o crescimento no turismo internacional desde 2005, superando todas as outras regiões do mundo. Confirmando a previsão do estudo da Oxford Economics, os dados da entidade mundial mostram crescimento médio anual de 6% no número de chegadas de turistas internacionais na região, enquanto a média global é de 4%.

“Não é exagero dizer que, ao longo dos últimos anos, todos os olhos no Turismo global estavam voltados para a Ásia e o Pacífico”, afirmou Zurab Pololikashvili, secretário-geral da OMT. “A Ásia e o Pacífico desempenham um papel fundamental no estado do nosso setor. É um mercado emissor importante, um centro de inovação turística e lar de muitos dos principais negócios do mundo e destinos mais emocionantes”, acrescentou.

Causas

A OMT afirma que o impulso de viagens internacionais se deve ao rápido crescimento econômico, ao aumento das ligações aéreas e aos grandes projetos de infraestrutura na região. Além disso, um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que, juntamente com as Américas, a região da Ásia e Pacífico é a mais aberta aos turistas em termos de exigência de visto em comparação com países europeus. Mais de 20% da população mundial não precisa de visto para entrar, 19% pode adquirir permissão na entrada e 7% precisa solicitar o visto eletrônico.

Para Mami Fumioka, vice-presidente da Quickly Travel, o crescimento se deve à exportação cultural asiática mundo afora nos últimos anos. “Com a globalização, a cultura asiática ficou em maior evidência, principalmente por causa dos desenhos animados japoneses e bandas coreanas. Todos esses fatores ajudaram o ocidente a se interessar pelos costumes, vestimentas e culinária da Ásia, aumentando o turismo local e a busca por novas experiências orientais. Percebemos, também, o desenvolvimento dos países asiáticos em receber esses turistas, principalmente em relação à comunicação”, revela.

Renata Yano, diretora de Produtos, Operações e B2B da Teresa Perez, aponta outros possíveis fatores para a evolução da Ásia para o público brasileiro. “Entre eles está o crescimento de marcas asiáticas pelo mundo, como Mandarin Oriental, The Peninsula, Raffles e Anantara, e a chegada e expansão de grandes internacionais a diferentes países da Ásia, como Four Seasons, Park Hyatt e Sofitel. Há também o grupo Rosewood, que teve origem nos Estados Unidos, mas foi comprado por uma família de Hong Kong em 2011”, afirma.

De acordo com a diretora, há também o forte trabalho de promoção de alguns destinos em nosso mercado, como Turismo da Tailândia, que há anos vem investindo no Brasil. “Também temos boa presença do Turismo da Coreia, da Índia, do Japão e, mais recentemente, do Butão. Com efeito, surge o desejo de descoberta de ‘novos’ destinos nesses países”, explica Renata.

“Kanazawa (Japão), por exemplo, que muitos anos era desconhecida pelo mercado brasileiro em razão da falta de hotelaria de alto padrão, hoje está presente em vários de nossos roteiros, cujo luxo está em experiências autênticas e que só podem ser vivenciadas em determinados locais, isso é algo que muitos clientes também encontram na Ásia”, exemplifica a diretora.

Renata destaca ainda que o continente asiático foi o último a abrir suas fronteiras para viagens a lazer, e muitos países o fizeram com diferentes protocolos. “No início da reabertura, tendo sido a grande maioria em 2022, nos mantivemos atentos às novidades de cada país e fornecedores referentes às experiências em roteiros, às inúmeras inaugurações de hotéis, por meio de treinamentos para nossa equipe com os principais parceiros locais, organização e participação em famtours tanto terrestres quanto de cruzeiros”, comenta.

“O Japão foi o último país a abrir após a pandemia e criou-se uma maior expectativa dos turistas”, destaca Mami. “A Coreia está em alta ultimamente, por conta dos dramas coreanos, conhecidos como k-drama, da indústria da beleza e bandas musicais que cantam e dançam o estilo k-pop. Por fim, a procura pela Tailândia aumentou por conta do seu clima similar ao do Brasil e por proporcionar experiências diferenciadas com uma rica cultura”, acrescenta a vice-presidente da Quickly Travel.

Renata complementa dizendo que, antes da pandemia, os clientes da Teresa Perez historicamente tinham preferência por cada país segundo as melhores temporadas de viagens. “Por exemplo, a alta temporada do Japão estava bem dividida entre o outono, em novembro, e as cerejeiras, entre março e abril. Contudo, desde a reabertura do Turismo neste país, nossos clientes passaram a solicitar viagens durante o ano inteiro, demonstrando uma mudança na busca por viagens”, revela a diretora.

Com relação aos demais países, no entanto, o comportamento dos clientes segue a sazonalidade já prevista. “Desse modo, podemos citar alguns exemplos, como a procura crescente por Bali, na Indonésia, entre maio e outubro; pelo sudeste asiático (Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã, sobretudo) e Índia, agora, entre novembro e abril; o Réveillon em grandes cidades, como Bangkok e Cingapura, são bem procurados. China, geralmente, o ano inteiro”, lista Renata.

“Como estamos muito distantes da Ásia, qualquer viagem para lá demandará uma conexão em Dubai, Doha ou em algum importante hub europeu. Por isso, nossos clientes costumam dedicar mais tempo para esse continente”, conta Renata. “É comum, inclusive, combinarem alguns países na mesma viagem, como Butão e Nepal. Em outros casos, em razão da diversidade cultural e de paisagens, há países que podem despertar maior interesse para uma viagem dedicada inteiramente a ele, como China ou Japão”, complementa.

Falando em conexão em Doha, a Qatar Airways anunciou, em junho deste ano, que retomará voos diários para Tóquio, dobrando a frequência de voos para o país. A companhia aérea também lançou, mais cedo neste ano, pacotes exclusivos para a Ásia, além do aumento de sua frequência de voos para os destinos chineses Pequim, Guangzhou, Hangzhou e Xangai – ampliando opções e reduzindo o tempo de espera entre a escala feita entre Brasil e China. Vale dizer que a empresa renovou recentemente sua parceria com a Fifa até 2030, o que inclui o torneio Sub-17 que será realizado na Indonésia.

Tendências

No que se refere às mudanças comportamentais dos viajantes, Mami destaca algumas tendências, como a busca por viagens com maior contato com a natureza. “Depois da pandemia notamos que a grande maioria dos turistas está mais interessada em viagens outdoor, ou seja, viagens que eles possam ficar ao ar livre, fazer caminhadas, ir à praia, aproveitar a natureza”, salienta a executiva da Quickly Travel.

Renata acrescenta que Tereza Peres tem apostado na busca de viagens por espiritualidade e com significado, com poder de transformar, sobretudo em destinos como Butão, Índia, Indonésia e Tailândia. “Ao mesmo tempo, as viagens motivadas por questões culturais seguem na liderança, e devem continuar assim pelos próximos anos, afinal, historicamente essa tem sido uma das principais motivações de viagens a lazer de brasileiros para a Ásia”, complementa.

Desafios

Apesar do enorme potencial turístico, aumento nas buscas, investimentos no setor e chegadas de turistas, todo mercado comporta alguns desafios. Entre os pontos apontados por Mami, está a disponibilidade dos destinos nos períodos que o cliente deseja viajar, como a florada das cerejeiras na Ásia, que precisa ser feita com, no mínimo, um ano de antecedência. “Há ainda o desafio da agilidade necessária nos negócios, pois com a alta demanda de viagens no pós-pandemia, toda cadeia precisa permanecer ágil para atender a alta demanda dos consumidores”, afirma.

Renata, por sua vez, aponta que a demanda também não voltou aos mesmos números de antes da pandemia de forma proporcional para todos os países da Ásia. “Como o continente é imenso, podemos destacar ainda alguns desafios em termos de operação turística e de imagem. No primeiro caso, há o Myanmar, que ainda passa por conflitos sociais, inclusive com embargo de alguns países do Ocidente. Aqui é difícil prever quando a operação de viagens será retomada integralmente”, informa a diretora.

“Podemos citar também o Sri Lanka, que passou por manifestações locais no ano passado e isso comprometeu a imagem da segurança do país para visitantes por um tempo”, continua Renata. “Outro exemplo seria a China, epicentro do surto da Covid-19, que mesmo com a retirada da situação de emergência da pandemia talvez ainda tenha alguns resquícios em termos de imagem de destino turístico. Portanto, acreditamos que um grande desafio é a retomada do esforço de marketing e vendas no mercado brasileiro”, completa.