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2025: O ano do silêncio

Ano novo. E com ele, as tradicionais perguntas sobre tendências. Até pode ser uma tendência a longo prazo, mas nesse caso trata-se de uma recomendação da minha parte, convivendo com pessoas de diferentes origens e posições, dando aulas na universidade e falando com milhões de pessoas na TV e no rádio: precisamos de silêncio. Pausa. Reflexão. Higiene mental. Higiene emocional. Pausa novamente. Muitos pontos finais marcarão esse texto, para que você leia e reflita sobre cada provocação. 

Há números alarmantes sobre depressão e ansiedade. Nas diferentes gerações. E diferentes estudos, em universidades e centros de pesquisas nos cinco continentes apontam que essa nova civilização digital é, sim, responsável por tanta gente doente. E tantos fracassos.

Com muito atraso a sociedade decidiu lidar com a poluição ambiental. O excesso de lixo nos oceanos, no ar – afinal fumaça é lixo- está sendo tratado com a devida responsabilidade e urgência. No entanto, o lixo digital segue contaminando relações, causando patologias. Algumas obras, que mostram o impacto dos games e das redes sociais no cérebro, se tornaram best sellers. E deveriam ser lidas por todos. Se possível, porque esse universo digital tem atrofiado em pouco tempo uma série de habilidades que levamos 300 mil anos para desenvolver: a capacidade de leitura e entendimento de textos mais longos vem se perdendo em todos os lugares. Desenhos, como na pré-história, substituem palavras. Causam confusão no entendimento e entortam relações, inclusive profissionais. Senão vejamos: o famoso polegar, que no passado, para a geração X e millenial indica(va) curtida, para as novas gerações simboliza ironia.

Textos longos trazem contexto, precisão, sutilezas e silêncio. Bolinhas amarelas com expressões engraçadas, não. Diálogos profundos, habilidades relacionais, inteligência emocional vêm se perdendo entre as pessoas.

Somos estimulados todo o tempo por informações irrelevantes. Com falso senso de urgência. Há uma forte correlação entre a eleição de Donald Trump, a queda nas vendas dos produtos de luxo – Gucci e Louis Vuitton, o aumento de preços em diferentes serviços e produtos e também a crise enfrentada por digital influencers. Há um desejo de barrar essa loucura que se tornou o mundo moderno. Com excesso de tudo. E o luxo fala de escassez.

Não sou, em absoluto, saudosista, tampouco reacionário. Mas olho com preocupação as decisões equivocadas de nossos tempos. Há excesso em tudo. Na comunicação, na oferta mercadológica, nas emoções. E psicanalistas já sabem: todo excesso esconde falta. Muito além de carências emocionais, o excesso de hoje indica, ao menos, falta de qualidade.

Em um mundo em que tudo é tendência, nada mais é tendência. No mundo em que todo mundo é especialista, não há mais especialistas. Em um mundo de tantas urgências, nada mais é urgente. E em que tudo é luxo, nada mais é luxo. Excesso não traz aspiração, muito menos inspiração.

As redes sociais exemplificam tudo isso: é tanta oferta de bens e serviços que qualquer compra se torna entediante. Em um mundo com excesso de pornografia, a libido tem sido mais responsável pela falta de sexo do que qualquer alteração hormonal. Em um mundo de tantas celebridades, já não sabemos mais quem é quem.  Obviamente os canais tradicionais de comunicação têm o que comemorar. Uma revista como a Vogue, uma vez por mês, pode trazer o que é realmente importante na moda e na beleza. Muito mais do que milhares de posts de gente que não entende do riscado. O mesmo com a indústria de viagens. Nunca foi tão necessária a presença de revistas de Turismo. A tal da curadoria nunca se fez tão importante.

É preciso combater o “demais”. O quiet luxury, no consumo, que falamos há 3 anos, segue como referência. Ninguém aguenta mais logo. Mais barulho. Mais estímulo. Mais mensagens. Mais posts. Mais ansiedade. Eu aposto na volta dos e-mails e na perda de importância do Whatsapp. Talvez não no próximo ano, mas daqui um tempo maior. Escrever e-mail exige mais detalhes, concentração. Não se manda e-mail à toa. O Whatsapp acabou até com a tal palavra cantada em prosa e verso em língua portuguesa: saudade. Não ter saudade é o cúmulo do tédio. Um tédio barulhento que tirou inclusive o frisson das viagens. E quem diria que para combater esse mal o silêncio se faz necessário. Nunca a abundância foi tão rejeitada. E que venha 2025, com menos barulho. E mais pausas.

 

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