A Black Friday, um dos momentos mais esperados do ano pelo comércio, também movimenta o setor de Turismo. Ofertas tentadoras e descontos expressivos prometem atrair consumidores em busca de oportunidades imperdíveis. Contudo, para as agências de viagens, o período traz um dilema: como conciliar a necessidade de preços competitivos com a preservação das margens de lucro, que já são tão reduzidas no segmento?

No Turismo, a cadeia de distribuição é complexa e envolve diversos fornecedores: hotéis, companhias aéreas, receptivos, empresas de transporte rodoviário, atrações e muito mais. Para que as agências possam oferecer promoções verdadeiramente atrativas, é fundamental que os fornecedores contribuam com condições comerciais diferenciadas. Infelizmente, o que temos observado em muitas campanhas de Black Friday são práticas que prejudicam diretamente os agentes de viagens.

Relatos frequentes indicam que, em várias promoções, a redução de preços não está sendo assumida pelos fornecedores, mas sim transferida para os agentes, via cortes nas comissões. Em outras palavras, o agente, que é o elo mais importante na comercialização de serviços turísticos, acaba pagando a conta dessas campanhas, numa estratégia que poderíamos chamar de “cortesia com o chapéu alheio”.

Essa abordagem não só desvaloriza o papel do agente de viagens, como também cria um ambiente desleal. Mesmo quando a participação nessas campanhas é apresentada como “opcional”, na prática, os agentes enfrentam uma escolha difícil: aderir à promoção, aceitando margens reduzidas, ou arriscar-se a perder vendas para concorrentes que optam por trabalhar com margens ainda mais apertadas. Trata-se de uma competição insustentável, que compromete a saúde financeira de todo o setor.

É importante destacar que as campanhas de Black Friday podem, sim, trazer ganhos significativos para o Turismo, aumentando as vendas e ampliando o acesso dos consumidores a experiências de viagem. Mas, para que esses benefícios sejam sustentáveis, é essencial que as promoções sejam planejadas com equilíbrio e ética, respeitando a remuneração justa dos agentes e promovendo uma verdadeira parceria entre todos os atores da cadeia produtiva.

Portanto, deixo aqui um alerta: a valorização do trabalho do agente de viagens é fundamental para a sustentabilidade do setor. Que a Black Friday seja, de fato, uma oportunidade de crescimento para todos – e não um período de sacrifício desnecessário. Assim, analisem com atenção as condições propostas, negociem com fornecedores e certifiquem-se de que as promoções sejam construídas de maneira justa, sem comprometer a rentabilidade de seus negócios.