O Alentejo vive um momento de expansão e transformação. A região portuguesa, que ultrapassou a marca de 3 milhões de turistas em 2024, prepara-se para dar um novo salto em sua trajetória turística.
José Santos, presidente da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo, traça um cenário promissor, mas também repleto de desafios, sobretudo no que diz respeito à internacionalização do destino. O objetivo agora é claro: reduzir a dependência do mercado doméstico e crescer de forma consistente em mercados estratégicos, como o Brasil.
Atualmente, cerca de 65% das pernoites registradas no Alentejo têm origem no público português. A meta é inverter essa lógica. “Precisamos crescer mais depressa nos mercados internacionais do que no nacional. E o mercado brasileiro é uma prioridade”, afirma Santos, destacando afinidades culturais e gastronômicas como trunfos para ampliar a atratividade entre os viajantes do país sul-americano.
Recuperar espaço perdido
Antes da pandemia, o Brasil era o segundo maior emissor internacional para o Alentejo, atrás apenas da vizinha Espanha. Desde então, os números sofreram forte retração. Em 2024, até abril, o destino contabilizou cerca de 60 mil dormidas de turistas brasileiros — número ainda distante do patamar pré-crise sanitária. A perda, no entanto, começa a ser revertida: se em determinado momento o decréscimo foi de 16%, hoje gira em torno de 3% a 4%.

A meta, segundo o dirigente, é clara: recuperar o fluxo anterior à pandemia. “Queremos estancar essa queda e voltar aos níveis de 2019. O enoturismo é uma aposta chave para essa reconquista”, pontua.
Novo ciclo de investimentos e ações no Brasil
Para isso, o Alentejo está ampliando os investimentos em promoção, comunicação e relacionamento com o trade brasileiro. Em 2024, a região participou dos eventos Vinhos de Portugal no Brasil — tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo — em ações conjuntas com a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), reforçando a estratégia de apresentar o turismo em sinergia com os vinhos da região.
A estratégia contempla ainda parcerias com mídias especializadas em lifestyle, como a revista Lounge, que prepara um especial dedicado ao Alentejo, além de ações com artistas brasileiros e influenciadores. “Recentemente, a Fernanda Torres visitou o Alentejo de forma espontânea e o impacto foi enorme. Queremos fortalecer e ampliar esse tipo de colaboração”, afirma Santos.
No canal B2B, a região também se movimenta. Uma das iniciativas em desenvolvimento é uma parceria com a operadora Trend, que já levou sua equipe de vendas a visitar o Alentejo. O objetivo agora é criar uma trilha de capacitação para as equipes brasileiras e ampliar a venda do destino por meio da operadora.
Sustentabilidade e sofisticação como diferenciais
Um dos pilares da nova comunicação do Alentejo será o reposicionamento da oferta como um destino sofisticado, autêntico e comprometido com a sustentabilidade. “Não fazemos greenwashing. Temos hotéis com certificações ecológicas e queremos comunicar isso com mais clareza, inclusive com suporte tecnológico”, destaca o presidente, que cita o investimento na reformulação do site Visit Alentejo, incluindo a implantação de um assistente virtual com roteiros personalizados via inteligência artificial.
Essa narrativa reforça o foco em um público-alvo de perfil mais qualificado. O turista brasileiro que visita a região é, em geral, das classes A e B, com alto poder aquisitivo, interessado em cultura, história, gastronomia e vinho.
“É um viajante culto, que gosta de beber um bom vinho enquanto lê um livro de autor português. Queremos crescer nesse nicho, mas também reconquistar o público mais amplo, que vem por afinidade familiar ou curiosidade histórica.”
Sazonalidade em queda e capacidade em alta
Outro dado relevante é que o Alentejo vem reduzindo sua dependência da alta temporada. O turismo na região, especialmente aquele baseado em gastronomia e cultura, tem se consolidado durante todo o ano. Entre março e junho, bem como entre setembro e novembro, há forte procura — especialmente entre brasileiros.
A infraestrutura também acompanha esse crescimento. A região, que hoje dispõe de cerca de 30 mil camas, deve atingir 75 mil nos próximos quatro anos. Apenas em 2024, estão previstas as inaugurações de dez novos hotéis, muitos deles em zonas como a Comporta, no litoral, consolidando um novo ciclo de expansão turística.
Parcerias estratégicas

Com Lisboa a apenas 45 minutos de carro da parte mais próxima do Alentejo, a região também aposta no fortalecimento do cross-selling com a capital portuguesa, além de parcerias com a Tap e o Turismo de Portugal. “O programa Stopover, por exemplo, pode ter mais ofertas específicas do Alentejo. A Tap é um parceiro essencial para nós, tanto aqui quanto nos Estados Unidos”, observa Santos.
Com uma nova diretoria composta por 13 membros — em sua maioria mulheres e representantes do trade —, o Alentejo se prepara para um novo momento. “Vamos investir mais, trabalhar melhor o digital, ampliar nossas capacidades internas e promover o destino com mais eficácia. E o Brasil terá papel central nesse processo”, finaliza.