A administração Trump propôs, nesta quinta-feira (08), uma reformulação multibilionária do sistema de controle de tráfego aéreo dos Estados Unidos (EUA), motivada por recentes acidentes fatais e falhas técnicas que evidenciaram a defasagem da rede atual.
O plano prevê a construção de seis novos centros de controle de tráfego aéreo, além de atualizações tecnológicas e de comunicação em todas as instalações de tráfego aéreo do país nos próximos três anos, segundo Sean Duffy, secretário de Transportes. O custo total ainda não foi divulgado.
“Usamos radares da década de 1970”, disse Duffy, comparando a proposta à troca de um celular antigo por um smartphone. “Essa tecnologia tem 50 anos e é com ela que nossos controladores mantêm os aviões separados no céu”, acrescenta.
A proposta inclui a instalação de tecnologia de fibra óptica, sistemas sem fio e satélites em mais de 4,6 mil locais, substituição de 600 radares e ampliação do número de aeroportos com sistemas projetados para reduzir quase colisões nas pistas.
Também serão construídos seis novos centros de controle de tráfego, com padronização de hardware e software em todas as instalações.
O plano tem um cronograma agressivo e prevê a conclusão até 2028.
Qual será o custo?
Na semana passada, o Comitê de Transportes e Infraestrutura da Câmara estimou que a reforma poderia custar cerca de US$ 12,5 bilhões, mas esse valor foi calculado antes da divulgação dos detalhes pela pasta. Apoiadores da proposta indicaram que esse montante seria apenas o começo.
O deputado Sam Graves, do Missouri, presidente do Comitê de Transportes da Câmara, chamou o valor de “entrada inicial”.
Para construir o sistema em três ou quatro anos, conforme planejado, Duffy afirmou que o Congresso precisa liberar todos os recursos antecipadamente para a Adminsitração Federal de Aviação dos EUA (FAA).
Trump declarou nesta quinta-feira que o plano vai revolucionar a aviação. “O novo equipamento é inacreditável, o que ele faz”, disse, no Salão Oval. Ele chegou a sugerir que talvez nem fosse mais necessário ter pilotos, antes de ponderar: “Na minha opinião, sempre será preciso ter pilotos. Mas nem seria necessário. Esse sistema é tão incrível.”
O sistema envelhecido e com dificuldades para lidar com mais de 45 mil voos diários voltou ao centro das atenções após a colisão aérea, em janeiro, entre um helicóptero militar e um avião comercial, que matou 67 pessoas sobre Washington, D.C.
Segundo Duffy, o acidente demonstrou a urgência das melhorias. Diante de autoridades da aviação, sindicalistas e familiares das vítimas do acidente próximo ao Aeroporto Nacional Reagan, ele declarou que “se há problemas previsíveis no espaço aéreo, espera-se que alguém tome providências para salvar vidas. É ousado. Vai ser desafiador, mas com certeza conseguimos fazer”, completa.
Alguns equipamentos são tão antigos que o governo precisa recorrer ao eBay para comprar peças de reposição, e alguns sistemas ainda utilizam disquetes, disse Duffy.
Um problema de décadas que se agrava
Após o acidente aéreo, Trump prometeu consertar o que chamou de “um sistema velho e quebrado” e combater a escassez nacional de controladores de tráfego aéreo, atribuindo ambos os problemas à administração Biden anterior.
Contudo, as fragilidades do sistema de controle de tráfego vêm sendo apontadas há anos em audiências no Congresso e relatórios governamentais. As dificuldades para acompanhar o crescimento do tráfego aéreo são reconhecidas desde a década de 1990 — muito antes das gestões de Trump ou Biden.
A proposta da administração Trump precisará de apoio do Congresso e financiamento suficiente para ter mais impacto do que reformas anteriores, feitas ao longo das últimas três décadas. Desde 2003, já foram investidos mais de US$ 14 bilhões em melhorias, sem mudanças significativas no funcionamento do sistema.
Desde meados dos anos 2000, a FAA trabalha para modernizar o sistema por meio do programa NextGen.
Um dos maiores desafios de uma atualização desse porte é que a FAA precisa manter o sistema atual em operação enquanto desenvolve o novo — e, depois, encontrar uma forma de fazer a transição sem interrupções. Por isso, a agência tem optado por melhorias graduais.
A escassez de controladores e as falhas técnicas ganharam destaque nas últimas semanas, quando um radar falhou temporariamente no Aeroporto de Newark, resultando em cancelamentos e atrasos em série.
Sem as atualizações anunciadas nesta quinta-feira, essas falhas tendem a se repetir em todo o país, alertou Duffy. “Newark tem sido um exemplo claro do que acontece quando esse equipamento antigo falha”, conclui.