Faz um tempo que as universidades em todo o mundo passam por um processo chamado de revisionismo histórico. O Wikipedia define esse termo como o estudo e a reinterpretação da história com base na ambiguidade dos fatos históricos e na imparcialidade com que esses fatos podem ter sido descritos. Em linguagem de cozinha, é o famoso “para cada fato, há diferentes versões”. Cada pessoa pode olhar para um acontecimento e dar sua própria interpretação baseada em seus interesses, valores, experiências e crenças.

Ter a percepção do outro é fundamental para os negócios. Se você não percebe como o seu cliente vive o produto ou o serviço que você vende, você tem um grande problema. Não se colocar no lugar do outro dificulta negociações, relacionamentos e qualquer planejamento estratégico. Os melhores jogadores de xadrez procuram antever o movimento de seus adversários. E, para isso, precisam mentalmente mudar de posição o tempo todo, para ter uma melhor clareza das possíveis posições em um tabuleiro.

Valores estéticos também mudam, seguindo momentos históricos e culturais que servem de referência. Desse modo, por muito tempo, o conceito de luxo para os europeus era determinado pela Ásia. O comércio com as Índias impulsionou a descoberta de diferentes rotas.

Inicialmente, há 25 anos, as companhias aéreas asiáticas começaram a ganhar espaço no quesito excelência de serviços e sofisticação. Algumas das mais tradicionais empresas europeias perderam posições para concorrentes do extremo e médio Oriente, fosse no atendimento a bordo, nos cardápios, no design de suas aeronaves e até no serviço terrestre.

Em seguida, observou-se a gastronomia asiática tomar conta dos bairros mais elegantes e descolados das grandes capitais, influenciando, a seguir, as demais classes sociais. Hoje, a comida japonesa, chinesa, tailandesa e indiana é muito mais acessível. Vimos, em seguida, o design influenciar grandes marcas de roupas, joias e até o trabalho de importantes arquitetos e urbanistas.

Mais recentemente, a hotelaria asiática tem se destacado de forma impressionante. Não só os ryokans japoneses entram na lista de must go do jet set internacional, mas as grandes cadeias orientais têm ganhado prestígio e mercado no universo da hospitalidade de luxo. A hotelaria francesa e suíça, até pouco tempo referências, perderam grande espaço para rivais do extremo Oriente e Oriente Médio. The Peninsula Hotels, Mandarin Oriental Group, Shangri-la são alguns dos exemplos. Outras marcas, nascidas no leste, foram compradas por investidores ocidentais, mas fazem questão de manter o DNA intacto.

Não se pode negar que a Ásia começa a ditar normas não apenas na economia, na tecnologia, mas também na cultura e até na espiritualidade e estética. A Coreia do Sul vem fazendo a cabeça dos jovens brasileiros com seus grupos musicais, grifes de roupa, do mesmo modo que os desenhos japoneses ganham a preferência dos leitores de mangás e fanáticos por animes.

Elementos da filosofia japonesa voltam a entrar no radar de gestores. De ikigai (propósito de vida) a gambatte (a arte de fazer o melhor com o que se tem), temas é o que não faltam para inspirar o modo de vida ocidental. Cada vez mais tenho sido chamado para aulas e palestras sobre o luxo asiático e treinamentos sobre branding a partir de valores orientais. Falam que mineiros comem quieto. Isso porque nunca olharam de perto os asiáticos.