Completando 70 anos nesta quinta-feira (13), o Ca’d’Oro é um marco da hotelaria paulistana.  Fazendo o caminho inverso da maioria dos hotéis, foi fundado em 1953 como um restaurante na rua Barão de Itapetininga, no centro de São Paulo (SP), pelo imigrante italiano Fabrizio Guzzoni. A especialidade era a culinária do norte da Itália.

“Quando o Ca’d’Oro foi fundado como restaurante, trouxemos muitos pratos que eram desconhecidos para os paulistanos, como o risoto, carnes de caça e pato. Nessa época, os italianos que trabalhavam com gastronomia em São Paulo eram basicamente do sul e, apesar de a Itália ser um país muito pequeno, a gastronomia de uma região para outra é muito diferente”, explica Fabrizio Guzzoni, neto do fundador e atual diretor do Ca’d’Oro.

Depois, em 1956, tornou-se um hotel que, posteriormente, foi transferido para a rua Augusta, em um imponente empreendimento hoteleiro, o primeiro cinco estrelas da capital paulistana.

O empreendimento recebeu muitos hóspedes ilustres ao longo dos anos. Funcionário do Ca’d’Oro há 43 anos, o capitão-porteiro Mário Spolaor relembra alguns deles. “Atendi no antigo Ca’d’Oro membros de realeza e vários presidentes brasileiros. Também recebi o Luciano Pavarotti, Roberto Carlos e o Pelé. Sempre atendi todos com muita simpatia”, conta.

Falando em Pavarotti, Guzzoni relembra a passagem do tenor italiano pelo hotel, quando um fato inusitado aconteceu: foi necessário comprar uma balança maior para acomodar os 160 quilos do artista. “Temos muitas histórias. O Ca’d’Oro foi sede provisória do governo federal quando João Figueiredo se tratou em São Paulo e não queria ficar no hospital, então ficou no hotel e despachou por aqui”, conta.

O empreendimento também teve moradores famosos, como Di Cavalcanti. “Temos uma história interessante com ele. Como todo artista, ele trabalhava para viver. Uma vez ele estava sem dinheiro e ofereceu para o gerente da época alguns quadros para quitar a sua dívida, mas o gerente não aceitou. Imagina só, hoje teríamos quadros do artista”, diverte-se Guzzoni.

Fabrizio Guzzoni, o neto, cresceu no empreendimento e trabalha no Ca’d’Oro desde 2000. “Tenho uma memória muito afetiva com o hotel. Sempre tivemos uma maneira de gerir como se fosse a extensão de nossa casa e mantemos uma hotelaria tradicional de família, que aprendi com meu avô. Fazemos com que os hóspedes se sintam nossos convidados, estendemos a questão do acolhimento. Estou sempre no hotel, faço questão de receber e cuidar de nossos hóspedes. Acredito que esse seja um diferencial nosso”, diz Guzzoni.

Um novo capítulo

Em 2009, o Ca’d’Oro foi fechado e o empreendimento demolido. Porém, em 2016, o hotel foi reaberto em um novo prédio no mesmo endereço. “Na reabertura, decidimos trabalhar para rejuvenescer a marca. Mas fizemos questão de trazer obras de arte do antigo Ca’d’Oro, pois as pessoas queriam ver um pouco dessa essência do hotel”, diz Guzzoni. As obras de arte podem ser vistas no lobby do hotel, assim como no restaurante. “Temos, por exemplo, um piano francês de 1860, que tocamos todas as quintas-feiras e domingos no restaurante”, exemplifica o executivo.

A essência do restaurante original também foi mantida e apresenta opções como o ossobuco de vitelo com risoto, prato tradicional da culinária do norte da Itália. “Temos um carinho muito grande pelo restaurante e não pensamos em modernizá-lo e trazer novas gastronomias. Nossas receitas são as nossas receitas”, afirma Guzzoni.

Para celebrar os 70 anos do Ca’d’Oro, o restaurante está servindo pratos que relembram sua história. “Nessa trajetória, muitos pratos fizeram sucesso, mas acabaram saindo do cardápio. Por isso, estamos relembrando, a cada mês, pratos icônicos. Neste mês, por exemplo, estamos homenageando a bresaola (espécie de carne seca bovina envelhecida por cerca de três meses) como entrada e a rabada com polenta”, conta o executivo. Vale destacar que o restaurante está aberto também ao público externo, que comparece em peso no local.