A pandemia de Covid-19 já está distante, mas o setor aéreo segue enfrentando problemas de cancelamentos e atrasos de voos. Pesquisa recente da AirHelp revela que o número de passageiros afetados por cancelamentos de voos no Brasil cresceu 108% até julho deste ano, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse fenômeno, segundo Luciano Barreto, diretor geral da AirHelp, não é exclusivo ao mercado brasileiro e é fruto de um conjunto de razões. 

“Parte dessas razões está dentro do controle das companhias e outra parte vai além do controle delas. Condições climáticas, questões de segurança do voo ou do aeroporto e programação apertada de voos aumentam a probabilidade de problemas”, lista Barreto, em entrevista exclusiva ao Brasilturis. “A falta de passageiros, overbooking e manutenções não planejadas também são grandes fatores. O mesmo vale para atrasos, que também estão em alta e impactam rotas com conexões”, acrescenta.

“As empresas lutam para atingirem um resultado operacional melhor e o setor está saindo de uma grande crise ocasionada pela pandemia. É muito difícil para a empresa decolar uma aeronave com uma baixa quantidade de passageiros, insuficiente para arcar com os custos operacionais”, continua Barreto. “É por este motivo que muitas companhias optam por cancelar os voos e alocar os passageiros algumas horas depois ou em outro dia”, explica.

A alta temporada também exige bom planejamento da companhia aérea, para evitar escassez de aviões ou de tripulação para atender a demanda. “Depois da pandemia houve uma redução muito forte nos quadros de colaboradores, mas o mercado está em crescimento e muitas vezes as companhias não têm funcionários suficientes para atender esse cenário. No mercado brasileiro, por exemplo, houve salto de aproximadamente 60 mil voos mensais para 80 mil nos últimos dois meses”, destaca Barreto.

O cenário internacional não é diferente. “Na Europa, por exemplo, em alta temporada, principalmente na época de verão (junho, julho e agosto), vimos uma demanda muito alta por viagens e muitos problemas, como greves em aeroportos, temas de incêndios e condições meteorológicas”, conta Barreto. 

“Muitas vezes os próprios aeroportos não estão preparados para lidar com uma quantidade maior de passageiros. Temas de segurança dos aeroportos e questões com as malas também afetam diretamente nos atrasos e cancelamentos”, complementa o diretor geral da Air Help.

A AirHelp também verificou que atrasos superiores a duas horas afetaram 287 mil passageiros de janeiro a julho deste ano, comparado a 233 mil no mesmo período do ano anterior. Quando não decorre de questões meteorológicas ou de força maior, esse tipo de atraso pode originar pedidos de indenização às companhias aéreas.

“O índice de elegibilidade de indenizações vem crescendo, principalmente em épocas de altas temporadas, como as férias de julho, superando a média de 2,5% e chegando até a 4%”, aponta Barreto. “É importante reforçar a conscientização dos passageiros, ainda são poucos que conhecem seus direitos, menos de 20%”, revela o executivo.

“Um pouco da missão da AirHelp é fazer essa conscientização, que está melhorando ao longo do tempo com algumas campanhas, sejam para aqueles que não receberam o bilhete do voo e também para os que voaram, tiveram algum problema e querem uma reparação desses ocorridos”, acrescenta Barreto.

Quanto ao segundo semestre, Barreto espera continuidade no crescimento visto desde o começo de 2023. “No entanto, acreditamos no aumento dos atrasos e cancelamentos, não só por controle das companhias, mas principalmente pela operação das empresas. Ainda existem gaps muito grandes em algumas áreas e isso deve ocasionar no aumento de atrasos e cancelamentos em relação aos anos anteriores”, finaliza o diretor.