É claro que dá pra pensar em turismo sem história. Mas que memórias sempre dão um charme na narrativa, ninguém duvida. Está aí os 100 anos do Copacabana Palace para me apoiar. Festa magnífica. Eu não fui convidado, mas acompanhei tudo pelas mídias. Uma ação de marketing para se aplaudir de pé, ou melhor, tomando sol na icônica piscina, recentemente renovada, que é também usada pelos vizinhos globais do edifício Chopin. O Rio tem outros hotéis de prestígio, como o Fasano, por exemplo, que é um espetáculo no atendimento e na localização. Mas todo turista tem o sonho de um dia se hospedar no Copa, sim, no diminutivo. Porque virou íntimo de muitos brasileiros, mesmo que nunca tenham pisado o pé lá. O hotel foi encomendado pelo presidente da República para receber celebridades, celebrar 100 anos de independência e projetar a então capital do Brasil no cenário turístico mundial. Deu certo. Virou cartão postal fora e dentro do país.
Mais do que hospedar grandes estrelas de Cannes e Hollywood, o hotel foi cenário de novelas e filmes e virou, inclusive, tema de documentários e livros. É claro que muito se deve ao charme dos cariocas. A arquitetura inspirada na Riviera Francesa conta. O talento dos chefs que pilotaram as panelas do Cipriani também. Mas o Copa só virou Copa por conta do charme de gente como Jorginho Guinle, Ibrahim Sued e Carmen Mayrink Veiga. que carregavam esnobismo copacabaniano ou copacabanês. Não que Carmen ou Ibrahim tenham morado no bairro. Mas carregavam essa coisa que bairro expressava e deixava o Rio chique com borogodó. Barry Manilow expressou tudo isso com exuberância em sua música, sucesso dos anos 1970. Entraram todos para a história.
Não temos hotéis legendários. Talvez o Copacabana Palace seja o único. Em cidades como Paris, eles são muitos. Desde o Ritz até o Le Scribe, onde se deu a primeira projeção de cinema da história dos irmãos Lumière. Um foi residência de Proust. O outro, morada de Josephine Baker. Um foi extensão da Maison Chanel. O outro, a primeira boutique da Louis Vuitton. Tudo há mais de 150 anos. Para o padrão francês, quase nouveau. É claro que podemos falar de outras propriedades históricas pelo mundo. Sem deixar de mencionar os hotéis literários. Seja em Lisboa, Nova York, Londres e Marrocos.
Pesquisas científicas, a indústria do luxo e o turismo refletem todo o tempo sobre o tempo. E o valorizam. Não por acaso, não coincidentemente, esses setores sofrem com o descaso no País. Daí que precisamos sempre inventar ou reinventar tudo. Houve tempo que adorava esse verbo. Hoje não mais. A reinvenção traz muitos prejuízos. Consome tempo desnecessário. Será que esconde o desrespeito que temos para com o que já existe? Não me tornei conservador, mas não consigo ver progresso sem memória. Seja na hotelaria, seja no destino turístico. Na empresa. Ou na vida.
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