Em busca de experiências e diferentes formas de lazer, uma tendência emergiu, transformando a maneira como as pessoas encaram suas férias. O termo staycation, combinação de “stay” e “vacation” (“ficar” e “férias”, respectivamente), refere-se ao ato de passar as férias ou tempo de lazer em sua própria cidade ou região em vez de viajar para destinos mais distantes. Nos últimos anos, o termo também passou a ser utilizado para designar hospedagem em hotel na cidade de residência, combinada com refeições e/ou atividades.

Como explica Gabriella Otto, CEO da GO Consultoria e presidente da HSMAI Brasil e Latam, esse modelo de hospedagem ganhou mais notoriedade durante a pandemia, e alguns mantiveram o costume devido à conveniência, economia de tempo e custo. “A modalidade ainda encoraja e ajuda a hotelaria a capitalizar o desenvolvimento do mercado local para alcançar um modelo de negócio hoteleiro mais resiliente”, acrescenta a executiva.

A prática se difere do day use, conceito mais conhecido, em especial para a categoria de resorts, que consiste em aproveitar as comodidades e serviços dos empreendimentos hoteleiros durante o dia, sem a necessidade de pernoitar. “Com o staycation, fechar o dia com um jantar incrível e dormir em uma cama confortável se tornou muito mais atraente para hóspedes locais”, pontua Gabriella.

Ambas as práticas ganharam força no pós-pandemia como complemento ao fenômeno revenge travel, segundo Gustavo Santana de Souza, diretor de Marketing e e-Commerce do Meliá Hotel Internacional para América do Sul. “Os serviços mais procurados passaram a ser comodidades e experiências ao ar livre, o que levou muitos hotéis urbanos a se adaptarem, inclusive destacando suas piscinas em fotos promocionais. Buscando absorver melhor essa demanda, os empreendimentos formularam diferentes pacotes e apostaram em experiências mais distintas – atendendo tanto os públicos locais quanto visitantes distantes”, conta o executivo.

Neste modal de hospedagem, o hóspede pede por uma experiência de lazer diferenciada, de acordo com Moacyr Luti, diretor de Vendas e Marketing do JW Marriott Hotel São Paulo. “É comum que seja a primeira vez em que ele está tendo contato com o hotel. Não à toa, acabam tendo um olhar ainda mais criterioso e exigente. Eles querem aproveitar ao máximo o tempo disponível para desfrutar de toda a nossa estrutura e conhecer os nossos serviços – em especial nosso espaço wellness com academia, sauna e piscina, além de desfrutar de descontos especiais para tratamentos no spa”, afirma o executivo.

Vale dizer que o típico hóspede de staycation é aquele mais sensível a preço e/ou com menos tempo a perder. “Ele quer encontrar ofertas especiais, experiências incluídas nos pacotes, descontos em restaurantes, ingressos para eventos locais, serviços de spa, e outras atividades que compõem o momento de lazer mais perto de casa”, reforça Gabriella.

Para atender a essa demanda, o Renaissance São Paulo desenvolveu pacotes que oferecem diversas experiências dentro do próprio hotel. “O Pacote Gastronômico, por exemplo, inclui um jantar para duas pessoas no Terraço Jardins, nosso restaurante que destaca influências caipira e caiçara. Além disso, criamos o Pacote Cultural, que, além do jantar no Terraço Jardins, oferece dois ingressos para peças em cartaz no Teatro Renaissance – entre outras ofertas, que incluem serviços do The Spa at Renaissance”, revela Fernando Bacalá, diretor de Vendas & Marketing do Renaissance Hotel São Paulo.
Entre outras experiências, Souza destaca a realização de uma parceria para um evento único, a “Noite do Pijama de Boardgame dos Anos 80 e 90″. Na ocasião, os participantes vestiram pijamas e jogaram jogos clássicos de tabuleiro, promovendo interação sem o uso de celulares. “A proposta era criar uma conexão emocional entre as pessoas, formando redes e proporcionando experiências memoráveis que ficam gravadas na memória. O foco está em eventos que promovem esse tipo de interação e conexão entre os hóspedes”, explica o executivo da Meliá.
O fenômeno do staycation também está fundamentado na tendência de procura por experiências locais, que é anterior à pandemia. “Notamos um interesse crescente em explorar a própria cidade, buscando estadas mais curtas e convenientes para relaxar e se desconectar, mesmo que seja apenas por um fim de semana. Esse comportamento é particularmente evidente em contextos urbanos, como São Paulo, onde a rotina acelerada muitas vezes deixa pouco tempo para pausas mais longas”, destaca Bacalá.

“Hóspedes locais, ao escolherem staycations, muitas vezes já estão familiarizados com a região, o que significa que buscam experiências mais autênticas e fora do comum”, reforça Gabriella. “Eles podem estar mais interessados em explorar elementos culturais específicos, participar de eventos locais e interagir com a comunidade de uma maneira mais profunda do que os visitantes de fora”, complementa a presidente do HSMAI Brasil.

Por conta disso, Souza destaca a importância de uma abordagem que vai além de oferecer experiências próprias, mas conhecer o entorno do empreendimento. “A equipe do hotel deve ter profundo conhecimento das experiências locais para enriquecer a estadia dos hóspedes. Treinamentos específicos podem potencializar esse conhecimento cultural do destino. A estratégia de comunicação, portanto, deve incentivar a descoberta não apenas do hotel, mas das atividades culturais da região”, reitera o diretor.

Bacalá corrobora com a posição de Souza, reforçando a necessidade da experiência do hotel em se incorporar à cultura da cidade. “Queremos que cada estada vá além das paredes do hotel, proporcionando aos visitantes a oportunidade de mergulharem na autenticidade e diversidade que a cidade oferece. Seja desfrutando da vida noturna, explorando galerias de arte locais ou saboreando a rica culinária da região, queremos que cada hóspede vivencie São Paulo de uma forma verdadeiramente única e integrada à energia pulsante da cidade”, declara o diretor.

Fidelização e benefícios

Gabriella reforça ainda que é vital usar todos os mecanismos tecnológicos para segmentar preferências, perfis e estilo de consumo dos clientes. Para staycation, a presidente do HSMAI Brasil reforça que alguns dos atributos preferenciais a serem destacados nas prateleiras são: a categoria do hotel, localização, benefícios e atividades extras.

Uma das estratégias que alguns hotéis usam para impulsionar o tempo de permanência e recompra dos aficionados por staycation, segundo Gabriella, é o cashback e programas de fidelidade. “As estratégias de marketing direcionadas, como campanhas nas redes sociais destacando as atrações locais e as comodidades do hotel, também são eficazes. Além disso, criar parcerias com negócios locais para oferecer experiências colaborativas pode ser uma maneira inovadora de atrair esse público”, complementa.

Complementando a dica da executiva, Souza relembra que a comunicação não se limita ao externo. “É necessário trabalhar a comunicação interna do hotel, pois é comum que o hóspede escolha o empreendimento sem nem saber das opções de lazer disponíveis. Para isso, é importante desenvolver a fraseologia dos serviços, além de treinar a equipe para que o hóspede seja abordado de forma não invasiva”, explica o executivo da Meliá.
Por fim, Gabriella aponta que é crucial os hotéis entenderem a demografia local e as preferências dos hóspedes para personalizar suas ofertas. “A adaptação constante às mudanças nas tendências locais e a capacidade de inovação são essenciais para permanecerem competitivos nesse cenário. Staycations oferecem uma oportunidade única para os hotéis fortalecerem os laços com a comunidade e se tornarem parte integrante da vida local”, acrescenta.
Para isso, Souza reforça que é necessário ter uma leitura minuciosa do mercado e acredita que essa é uma tendência que veio para ficar. “As pessoas que viajavam para fora e deixaram de fazer durante os últimos anos, agora estão voltando a viajar para o exterior. Em compensação, o staycation é um mercado crescente e nos impulsiona a buscar cada vez mais parcerias, realizar treinamentos, criar novas atividades e atrações”, avalia o diretor da Meliá.
“Não tem porquê o staycation não permanecer. Se for conectado com uma boa estratégia, pode se tornar um ótimo modelo de apoio na gestão de receitas”, completa e conclui Gabriella.