A manhã do primeiro dia de atividades do Inspira Ecoturismo foi marcada por questionamentos que levaram o público a refletir sobre o turismo de natureza que é praticado hoje no Brasil. O evento, que é realizado no Hotel Wetiga, em Bonito (MS), reúne profissionais e entusiastas do segmento para debater acerca de desafios e soluções, além de trocar experiências.

Através de um estudo realizado pelo Polo Sebrae de Ecoturismo, Mateus Alves, assessor de Gerência na Diretoria de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, apresentou dados, tendências e insights do turismo de natureza, aventura e ecoturismo.

O levantamento aponta quatro possíveis cenários para o desenvolvimento do Ecoturismo no país, que refletem o tanto de investimento que seria dedicado ao setor. São eles: Nichos Pujantes; Muitos Oásis Nacionais; Devagar, quase parando e Brasil: Terra do Ecoturismo.

Em resumo, o cenário dos Nichos Pujantes é onde há o estímulo ao desenvolvimento do ecoturismo, porém sem disseminação. Apenas alguns conseguirão se desenvolver, provavelmente destinos já conhecidos pelos visitantes. Como resultado, o risco de massificação do destino e degradação do meio ambiente é alto.

Enquanto o quadro apresentado no cenário “Muitos Oásis Nacionais” é o inverso: o ecoturismo tem uma taxa de crescimento entre baixa e média no que diz respeito ao fluxo turístico, reunido em poucos polos. Neste quadro, o desenvolvimento dos atrativos e destinos surge de uma inciativa própria dos polos, a um alto custo, gerando um aumento nas taxas praticadas.

Devagar, quase parando. O nome dado a este cenário já diz muito sobre o que ele representa: baixo investimento no fortalecimento dos polos de ecoturismo, assim como baixo fluxo turístico.

O último quadro, intitulado de “Brasil: Terra do Ecoturismo” é considerado o cenário ideal. Com o setor fortalecido, políticas públicas e ações descentralizadas que alimentam a variedade de oferta no segmento. Isso aliado ao fato de que com mais opções de destinos de ecoturismo, seja possível ampliar a qualificação a mão de obra nos atrativos e fortalecer, deste modo, a preservação do meio ambiente.

A partir deste levantamento, Mateus apontou que diante de qualquer cenário, o ecoturismo cresce. “Em alguns casos mais, outros menos. Mas não tem como negar a ampliação da demanda que existe no país […] eu acredito que conseguimos, sim, chegar ao cenário ‘Brasil, Terra d ecoturismo’ com planejamento e organização”, pontuou Mateus.

Na intenção de que o Brasil seja reconhecido como a Terra do Ecoturismo ainda neste ano, a Embratur está realizando ações e investindo na experiência na natureza com qualidade de exportação, sustentabilidade e ações climáticas, gestão baseada em dados, gestão da marca Brasil e investindo nos mercados prioritários. “Estes mercados são aqueles que buscam o nosso país como primeira opção de destino de ecoturismo. Hoje temos como exemplo a Itália, França e Reino Unido”, explicou. 

  • ecoturismo
  • Richard Alves, da Lab Turismo Consultoria
  • Ana Luiza Russo, presidente da Associação de Turismo da Estância de Socorro (Astur), Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul (Fundtur-MS), e Juliane Salvadori, secretária de Turismo de Bonito
  • Juliane Salvadori, secretária de Turismo de Bonito

Conectando propósitos

Richard Alves, da Lab Turismo Consultoria e especialista em Gestão de Destinos, conversou diretamente com os empreendedores. Apontando a importância de atuar com propósito pessoal e profissional, ele trouxe para o diálogo um outro ponto de vista para quem faz o ecoturismo.

Richard questionou aos empresários presentes no evento sobre o processo de tomada de decisões, levando o público a refletir. “É preciso ampliar o nível de consciência acerca do propósito pessoal e coletivo da empresa para, em seguida, agir de acordo com ele”, frisou o especialista que ainda foi além: “O que estamos vendendo? Cama, transporte, pernoite, refeição, um atendimento a determinada necessidade básica? Ou estamos vendendo experiências, oportunidades e momentos de transformação? É preciso entender que o Turismo de natureza é muito mais do que alguns serviços conectados”, provocou.

O segredo de um destino ecoturístico de sucesso

Mediadas por Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul (Fundtur-MS), Juliane Salvadori, secretária de Turismo de Bonito e Ana Luiza Russo, presidente da Associação de Turismo da Estância de Socorro (Astur) e vice-presidente do Conselho Municipal de Turismo da cidade (Comtur), participaram de uma conversa que abordou os segredos de um destino bem sucedido como polo de ecoturismo.

De acordo com Juliana Salvadori, os fatores que contribuem para um bom resultado são a governança, iniciativa pública e privada, realização de eventos voltados na promoção do fluxo turísticos, investimento na infraestrutura do destino e qualificação do setor. 

No caso de Bonito, há um diferencial: o sistema de voucher único, implantado em 1995. Através deste sistema é possível controlar – e organizar – o fluxo turístico nos atrativos da cidade, respeitando o limite de carga de cada um deles, assim como o Sistema de Gestão de Segurança (SGS).

“Temos mais de 36 passeios credenciados e 52 atividades ativas. Ter o controle de quem está acessando estes atrativos é importante não só para preservação do meio ambiente, como para gestão de dados do município” frisou Juliana.

Ana Luiza apresentou como a cidade de Socorro, localizada no interior de São Paulo, tem utilizado desde 2021 o conceito de ser um destino pet friendly para atrair visitantes. “Investimos em qualificação, realizamos a alteração da legislação vigente para que animais domésticos pudessem permanecer em espaços como supermercados e restaurantes, além de desenvolver um selo com valide de dois anos para os estabelecimentos que realizassem a capacitação que desenvolvemos e adotassem as práticas indicadas”, contou Ana.

O município, que se tornou referência por ser um destino turístico que investe na acessibilidade, tem se posicionado desta forma para apresentar outros potenciais presentes em Socorro.

“Pequenas mudanças na comunicação já promovem um grande efeito. Passamos a utilizar a nomenclatura de ‘atividades de aventura e lazer’, em vez de ‘esportes radicais’, e isso passou a atrair visitantes que buscam atividades de natureza que variam entre níveis de iniciante a avançado. ” explicou Ana Luiza sobre uma das mudanças no posicionamento turístico de Socorro.

Fotos: Kamilla Alves


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