Com o objetivo de mitigar os efeitos do turismo predatório ou overtourism, destinos como Amsterdã (Países Baixos) e Veneza (Itália) estão implantando restrições à chegada de cruzeiros. Para contornar esse problema, uma antiga iniciativa pode se tornar uma alternativa para as companhias de cruzeiros: a aquisição de ilhas privativas. Muitas dessas empresas já possuem ilhas ou territórios continentais particulares e estão anunciando novos investimentos milionários nas propriedades.

Esses pequenos paraísos particulares são projetados exclusivamente para receber os milhares de visitantes provenientes das embarcações e oferecer experiências complementares aos atrativos dos navios. A maioria desses territórios já foi área de exploração predatória de recursos naturais e hoje, sob controle das armadoras, servem de base para uma variedade de projetos sustentáveis e de recuperação do meio ambiente.

A primeira companhia a adquirir uma ilha própria foi a Norwegian Cruise Lines (NCL), quando formalizou a compra da Great Stirrup Cay, em 1977, por US$ 1 milhão (mais de US$ 5 milhões no câmbio atual). Localizado nas Bahamas, a cerca de 100 quilômetros de Nassau, o território já foi cenário de exploração petrolífera e até base militar dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. 

Depois de décadas de adaptações e projetos de recuperação da natureza local, a ilha recebeu a primeira embarcação turística em 2012. “Hoje, é um paraíso intocado de magníficas praias de areia branca, coqueiros majestosos e águas calmas e cristalinas, onde uma abundância de vida marinha colorida habita os recifes de corais circundantes”, conta Estela Farina, diretora administrativa da NCL no Brasil. 

Quase uma década mais tarde, em 1986, a Royal Caribbean também adquiriu as ilhas Perfect Day at Cococay, nas Bahamas, e Labadee, no Haiti. Ambas somam mais de US$ 300 milhões de investimentos, com contrato de aluguel previsto para até 2050. “Tudo começou há mais de três décadas com um programa de reciclagem chamado Save the Waves, que hoje conta com diversas parcerias como o World Wildlife Fund (WWF), entre muitas outras iniciativas sustentáveis”, revela Ricardo Amaral, CEO e fundador da R11 Travel, distribuidora da Royal Caribbean International, Celebrity Cruises, entre outras.

“Afinal, uma das muitas razões para viajar em um cruzeiro é a oportunidade de explorar a beleza natural dos oceanos e dos destinos ao redor do mundo, desde as águas frias e selvagens do Alasca até o calor do mar do Caribe e suas ilhas paradisíacas”, comenta Amaral. “Essas maravilhas dependem do meio ambiente e é por isso que a Royal Caribbean passou décadas protegendo os destinos que você visita e as comunidades que neles vivem”, acrescenta.

Totalizando mais de US$ 200 milhões, a MSC Cruzeiros também entrou no negócio com a aquisição da Ocean Cay MSC Marine Reserve, nas Bahamas, em 2015, com abertura oficial em 2019. Durante mais de meio século, milhões de toneladas da mais fina areia de aragonita foram extraídas dessa ilha e usadas para finalidades industriais em todo o mundo. Com a aquisição da armadora, as operações extrativistas foram interrompidas e a iniciativa de recuperação e criação de uma reserva ambiental foi iniciada.

Por meio de um projeto paisagístico e de revitalização, a MSC plantou centenas de milhares de árvores, plantas e arbustos endêmicos do Caribe na ilha, atraindo a vida marinha e aves. O programa “Super Coral”, em parceria com universidades da Flórida, também trabalha para garantir as melhores condições ambientais para o desenvolvimento de corais resistentes nos arredores da ilha. Em julho deste ano, a ilha passou a integrar os 154 ‘Hope Spots’ da Mission Blue, organização sem fins lucrativos da oceanógrafa Dra. Sylvia Earle, que visa proteger e restaurar a vida marinha ao redor do mundo.

“Investir em sustentabilidade e melhorar a forma como navegamos é um dos principais objetivos da MSC Cruzeiros”, afirma Adrian Ursilli, diretor geral da MSC Cruzeiros no Brasil, em entrevista exclusiva ao Brasilturis. “Sendo assim, a companhia desenvolveu essa ilha com o objetivo de criar um impacto positivo a longo prazo, tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades e para a economia das Bahamas, além de proporcionar experiência imersiva e autêntica aos hóspedes dos cruzeiros”, complementa.

Em outras palavras, a aquisição das ilhas proporciona destinos seguros e sustentáveis para a visitação de milhares de passageiros das armadoras. Além das praias brancas, águas cristalinas e áreas verdes intocadas, as companhias ainda garantem estrutura completa de lazer para os hóspedes de suas embarcações. Entre eles, cabanas privativas, atividades esportivas, brinquedos aquáticos, lojas, bares e restaurantes, além de shows, festas e eventos.

No caso da Ocean Cay MSC Marine Reserve, além de organizar eventos corporativos e sociais, é possível até a realização de casamentos e renovação de votos, incluindo pré-consultoria de casamento e coordenador de cerimônias a bordo e na ilha. O evento é realizado no pavilhão de casamentos decorado com arranjos naturais, como conchas e palmeiras, e conta com sessão de fotos, entre outras experiências.

Reconhecendo a importância da manutenção dessas ilhas, as companhias de cruzeiros estão investindo cifras cada vez maiores em revitalizações e novidades. Em 2019, a NCL investiu mais de US$ 400 milhões na expansão das praias, atualização de bares e construção de novos restaurantes na Great Stirrup Caye. O valor também inclui a nova área Silver Cove, com 38 vilas com diferentes categorias que podem ser alugadas por um dia.

Já para o Perfect Day at Cococay, a Royal Caribbean anunciou a expansão na ilha e o lançamento do bairro apenas para adultos Hideaway Beach no final de 2023, ampliando a capacidade da ilha para 13 mil visitantes diários. 

“Além de Cococay, a companhia também está desenvolvendo um novo destino exclusivo em Vanuatu, o Perfect Day at Lelepa, que busca oferecer um dia de praia mais sereno e tradicional. Será o pioneiro destino privado de cruzeiros a atingir neutralidade de carbono em nível mundial, com toda a energia consumida na ilha gerada por fontes renováveis”, revela Amaral.

Para além das ilhas, propriedades continentais privadas também são uma aposta das empresas marítimas. É o caso da Harvest Caye, em Belize, resort completo que serve como extensão dos navios da NCL, incluindo vastas extensões de piscinas, hospedagens e serviços de alimentos e bebidas de luxo. Enquanto atracado, também é possível participar de excursões às reservas naturais do país, além de conhecer o centro comercial da marina.  

Na mesma linha, a Royal Caribbean também está desenvolvendo o primeiro Royal Beach Club em Paradise Island, nas Bahamas. Previsto para inaugurar em 2015, o projeto foi elaborado em parceria com o governo do país caribenho e contará com uma parceria público-privada em que os moradores da ilha poderão possuir até 49% de participação no clube de praia. Empresas locais também terão a oportunidade de gerenciar a maioria dos negócios locais.

Ocean Cay MSC Marine Reserve (MSC)

A ilha oferece oito praias de areias brancas e águas cristalinas, proporcionando aos hóspedes a oportunidade de explorar a natureza intocada por meio de diversas atividades. Durante o dia, os viajantes podem relaxar nas cabanas privativas, participar de esportes aquáticos e excursões para observar a vida marinha. Lojas, bares e restaurantes estão disponíveis na ilha e os navios ancoram diretamente nela, permitindo que os hóspedes voltem a bordo quando desejarem. À noite, festas com DJ na praia e shows de luzes do farol são destaque. 

Perfect Day at Cococay (Royal Caribbean)

Acessível por três roteiros saindo da Flórida, nos Estados Unidos, a ilha inclui diversos atrativos, brinquedos aquáticos e piscinas. Além disso, há uma variedade de piscinas, incluindo a maior piscina de ondas do Caribe, a Adventure Pool, com obstáculos e desafios, e a Oasis Lagoon, a maior piscina de água doce das Bahamas. Os hóspedes podem desfrutar do refúgio privativo Coco Beach Club, relaxar na South Beach e desfrutar de diversas opções de bares e restaurantes, incluindo um churrasco americano.

Labadee (Royal Caribbean)

A ilha oferece uma variedade de atrações e atividades em seus cinco bairros distintos, incluindo a tirolesa Dragon’s Breath, a montanha-russa Dragon’s Tail, o escorregador aquático Dragon’s Splash e o Arawak Aqua Park com trampolins flutuantes e escorregadores infláveis. Os hóspedes também podem desfrutar de atividades aquáticas como mergulho com snorkel e caiaque, enquanto as suítes garantem acesso a cabanas privativas beira-mar. Há cinco praias, trilhas naturais, redes à sombra, enseadas isoladas, passeios históricos e diversas áreas para refeições ao ar livre, além de mercados nativos e de artesanato para explorar.

Great Stirrup Caye (NCL)

Com mais de 458 metros de praia acessível, os hóspedes desfrutam de guarda-sóis, espreguiçadeiras e um restaurante com bufê durante o almoço. As atividades incluem natação com golfinhos, caiaque, caminhadas à beira-mar, tirolesa e circuito de cordas nas alturas. Após as melhorias de 2019, a ilha conta com praias maiores, novos restaurantes, bares e opções de hospedagem, como o retiro privado Silver Cove, que inclui 38 vilas com diferentes tamanhos e amenidades, além de garantir acesso a restaurantes e spas exclusivos.

Ilha Catalina (Costa Cruzeiros) 

Entre as estruturas de baixa intervenção ambiental, estão quiosques para relaxamento e exposições, como o museu arqueológico subterrâneo com pinturas rupestres pré-colombianas e uma recriação de uma vila Mediterrânea do século XVI às margens do rio Chavón. Há também passeios de barco ao longo da costa da República Dominicana com almoço caribenho e visitas à Ilha de Saona. Os serviços da ilha proporcionam refeições inclusas e possibilidade de gastos extras vinculados ao cartão-chave da cabine.