Após a fila para a emissão do visto norte-americano registrar recorde de 610 dias (20 meses) de espera, em maio deste ano, essa situação parece estar diminuindo. No primeiro semestre do ano, os Estados Unidos emitiram 547 mil vistos para brasileiros, um crescimento de 34,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Para reduzir a demora na emissão de vistos, a embaixada norte-americana contratou mais funcionários e adotou algumas medidas, como não ser necessário agendamento de entrevista para quem precisa renovar o visto.

Atualmente, o visto mais concedido para os brasileiros no semestre foi o B1/B2. Ao todo, foram 516,8 mil emissões do tipo, um salto de 38,7% sobre os seis primeiros meses de 2022. Sendo assim, os vistos de turismo e negócios respondem por 94,7% de todas as emissões para brasileiros em 2023.

Apesar do tempo de espera ter caído, os valores subiram. Para a categoria B1/B2 (negócio e turismo), de US$ 160 passou para US$ 185; enquanto as categorias H, L, O, P, Q e R (trabalho temporário), custavam US$ 190, passaram para US$ 205; já a categoria E (comércio/investidor), o valor de US$ 205 agora é de US$ 315.

De acordo com a medida adotada, qualquer renovação de visto, incluindo de negócio e turismo (B1/B2), por exemplo, poderá ser dispensada da entrevista, se o visto anterior não tiver vencido há mais de 48 meses. Oficiais consulares poderão dispensar a exigência de entrevistas nos casos de primeiro pedido ou renovação dos seguintes vistos:

H-2: para estrangeiros que vão aos Estados Unidos realizar trabalhos temporários e sazonais;

F, M e J: os três tipos de visto de estudo e intercâmbio;

H-1, H-3, H-4, L, O, P e Q: visto de trabalho, estágio e atletas, caso já tenham recebido um visto norte-americano anteriormente e nunca tiveram um pedido negado; 

A decisão de dispensar a entrevista cabe aos funcionários consulares, que poderão exigir que ela seja feita mesmo nos casos elegíveis de isenção, de acordo com as condições de cada posto diplomático. Os candidatos devem verificar sites das embaixadas e consulados para obterem informações mais detalhadas.

Além desses vistos, Leonardo Leão, advogado, especialista em Direito Internacional, consultor de imigração e sócio da Leão Group, comenta que existem 187 tipos de vistos para os Estados Unidos. Sendo assim, o solicitante precisa analisar cada tipo de visto para não correr o risco de solicitar o errado.

Demanda de visto norte-americano

Felipe Alexandre, advogado de imigração e sócio-fundador da AG Immigration, especializada em green cards, vistos de trabalho e vistos temporários, falou com o Brasilturis sobre como as empresas estão lidando com a demanda na solicitação desses vistos. 

“Em 2022, por exemplo, 23 mil brasileiros receberam a cidadania permanente, o maior volume da história. Acreditamos que, neste ano, esse volume poderá ser batido, pois há uma conjuntura socioeconômica no Brasil que favorece essa migração. E é possível que o mesmo aconteça com o B1/B2 e outros. No caso de estudo e intercâmbio, o Brasil já é o oitavo país que mais envia alunos estrangeiros para os Estados Unidos, ou seja, já é um volume alto, mas que pode crescer ainda mais em 2023”, explicou Alexandre. 

Com a queda na fila de espera, o advogado mencionou que este é o momento ideal para as pessoas que só conseguiram agendamento no próximo ano anteciparem suas datas. “No começo do ano, estávamos vendo uma situação preocupante, porque é algo ruim para todo mundo, tanto para o setor de Turismo do Brasil como para os Estados Unidos, além de sobrecarregar as equipes dos consulados e da embaixada e criar toda aquela situação estressante para os viajantes. Vamos continuar acompanhando para ver como a fila se comporta até o final do ano, mas estamos bastante otimistas após a queda de 600 dias ir para 100 dias.”

Alexandre também mencionou que o grande gargalo dos consulados está sendo a falta de oficiais para analisar a alta demanda. Com isso, o advogado aproveitou para dar uma dica aos que desejam antecipar a data da entrevista consular: “entrar constantemente no site de agendamento e verificar se existem novas datas disponíveis. Em relação aos demais vistos, as opções de antecipação são bastante limitadas.”

Aaron Wodin-Schwart, vice-presidente senior de Public Affairs do Brand USA, complementa: “Globalmente, estamos enviando mais oficiais para fora dos Estados Unidos e esperamos atingir o quadro de equipe pré-pandemia a nível mundial até o final deste ano. Também estamos utilizando novas ferramentas para oferecer mais eficiência e consideramos constantemente novas formas tecnológicas que podem nos auxiliar no processamento de vistos. Até o início do verão no hemisfério norte, emitimos mais de1 milhão de vistos adicionais de não imigrante na Índia, no Brasil, no México e na Colômbia – nossas quatro principais missões de processamento de vistos – número que representa um aumento de 67,7% se comparado ao mesmo período do ano fiscal de 2019.”

Retorno dos brasileiros aos Estados Unidos

O país queridinho dos brasileiros ganhou ainda mais destaque depois da pandemia. Aaron Wodin-Schwartz, do Brand USA, e Dana Young, presidente e CEO do Visit Florida, falaram com exclusividade ao Brasilturis como estão lidando com essa demanda.

O representante do Brand USA afirmou que as viagens de brasileiros para os Estados Unidos tiveram uma recuperação forte e consistente desde a pandemia, já que o país recebeu, de janeiro a maio, 582.500 mil viajantes provenientes do Brasil, o que representa um aumento de 39,6% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Dana complementa e destaca como a Flórida sente a força do retorno dos brasileiros. “Com uma participação de mercado de 57,6% em 2022, o Brasil continua sendo um mercado importante para o Visit Florida. Nossos dados mostram que o Brasil está em um bom caminho de recuperação em 2023. No primeiro trimestre deste ano, recebemos 225 mil turistas brasileiros, recuperando 60% dos números de visitação pré-pandemia. No segundo trimestre, a Flórida recebeu 224 mil brasileiros, recuperando 75% dos números de visitação pré-pandemia”, detalha.

Entre os estados que estão liderando no ranking, Flórida novamente se destaca na visitação internacional e apresenta a maior parcela de visitantes estrangeiros, se posicionando à frente de Nova York e da Califórnia na recuperação de chegadas do exterior em comparação com 2019. Para o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a previsão é fechar o ano com cerca de 1,5 milhão de turistas brasileiros nos país, conforme declara Wodin-Schwartz.

A CEO do Visit Florida destaca que, apesar do tempo de espera dos vistos ter caído pela metade, o país norte-americano perderá 2,6 milhões de visitantes internacionais e cerca de US$ 7 bilhões em gastos, como resultado de viajantes que não conseguiram obter um visto de visitante a tempo de suas viagens.

“Eu me encontrei pessoalmente com membros do Departamento de Estado dos Estados Unidos para levantar esses pontos, e eles me garantiram que estão trabalhando duro para resolver os problemas que estão nos levando a esse longo tempo de espera. Eu, em conjunto com meus colegas da U.S. Travel Association, estou instando a administração Biden e o Departamento de Estado a tomar medidas para reduzir o tempo de espera para entrevistas, restabelecer a Ordem Executiva para processar 80% dos vistos em todo o mundo em 21 dias e aumentar a equipe consular e os recursos em países de alto volume de solicitação de vistos”, declara Dana.

Mesmo com a questão do visto norte-americano, a cidade está avançando com a maior visitação internacional desde 2019, onde o Brasil é protagonista. Somente de janeiro a junho de 2023, a Flórida recebeu 450 mil visitantes brasileiros, um aumento de 55,6% em relação ao mesmo período de 2022. “Estamos confiantes que esses números continuem a melhorar nos próximos meses, pois terminaremos 2023 com 34% a mais de voos diretos programados do Brasil para a Flórida em comparação com 2022”, diz a executiva.

Visto é obrigatório?

Na maneira convencional, os brasileiros necessitam de um passaporte válido e visto para visitar os Estados Unidos, incluindo passageiros fazendo uma conexão internacional. No entanto, sabia que é possível ir sem a necessidade de visto direto para as terras norte-americanas? Segundo o Wodin-Schwart, do Brand USA, os brasileiros podem se inscrever no programa de viajantes confiáveis do Global Entry (GE) dos EUA. A novidade foi iniciada no início de 2022. 

“Este programa permite liberação rápida para viajantes pré-aprovados e de baixo risco na chegada aos aeroportos do país. Os membros entram nos Estados Unidos através de quiosques automáticos em vários aeroportos e em locais pré-liberados em todo o mundo”, comentou.

O programa permite que aqueles que possuam os documentos de viagem válidos e cumpram com todos os requisitos – passando por rigorosa verificação de antecedentes e entrevista presencial – tenham a entrada facilitada no país. O valor da taxa, não reembolsável, é de US$ 100 e a aprovação do programa pode levar até duas semanas. Se a GE for aprovada, o solicitante deverá agendar uma entrevista na sua chegada aos Estados Unidos em um centro global de solicitação disponível nos aeroportos. Uma vez autorizada, a adesão será válida por cinco anos.

Outra forma de evitar todo esse processo é por meio do Programa de Isenção de Vistos. O programa permite aos cidadãos de certos países viajar aos Estados Unidos a turismo ou negócios sem visto, desde que a permanência no país seja igual ou inferior a 90 dias. Qualificando-se para viajar no programa de isenção de vistos, o solicitante deverá completar a autorização através do site da Embaixada dos EUA.

O programa está aberto aos países que têm taxas muito baixas de recusas de visto de não imigrante e de violações de imigração, que emitem documentos de viagem seguros e trabalham em estreita colaboração com as agências de aplicação da lei dos Estados Unidos e as autoridades de contraterrorismo.

Atualmente, 40 países participam do Programa de Isenção de Vistos: Alemanha, Andorra, Austrália, Áustria, Bélgica, Brunei, Chile, Coréia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, São Marinho, Singapura, Suécia, Suíça e Taiwan.

Turistas com dupla cidadania podem ser elegíveis a entrar no país sem um visto através do Programa de Isenção de Vistos.

Visto negado, o que fazer?

Ingrid Baracchini, advogada especialista em imigração para os Estados Unidos, explica que a negação do visto não é um ponto final para a entrada no país, mas é preciso saber o que fazer quando o visto é negado, a possibilidade de recurso e o tempo necessário antes de tentar novamente.

Um dos principais motivos para a negação de um visto norte-americano, de acordo com a advogada, é a falta de preparo no preenchimento do formulário. Outro motivo pode estar relacionado ao período curto trabalhado em uma determinada empresa, por exemplo. Nesse caso, é aconselhável aguardar o período concessivo de férias antes de tentar novamente. Por outro lado, se o motivo da negação for um erro de preenchimento do formulário, é possível refazê-lo e aplicá-lo imediatamente.

“É crucial compreender o motivo específico da negação para tomar as medidas adequadas. Além disso, também é importante agir de acordo com as instruções fornecidas pelo consulado, para aumentar as chances de sucesso na próxima tentativa”, orienta a especialista.

Muitas pessoas se perguntam se é possível recorrer a um visto negado. No entanto, de acordo com Ingrid Baracchini, não existe um processo de recurso formal para isso. Em vez disso, é necessário realizar uma nova aplicação e pagar a taxa novamente. O valor pago na primeira tentativa de solicitação não é reembolsado em nenhuma circunstância. Portanto, é fundamental estar preparado para investir novamente no processo de solicitação e seguir todas as orientações e requisitos exigidos.

Desinformação nas mídias sociais

É preciso tomar cuidado ao buscar informações sobre visto nas redes sociais. Alguns influenciadores, por exemplo, estão espalhando informações que não condizem com a verdade e ainda estimulam a fraude. Daniel Toledo, advogado que atua na área do Direito Internacional, fundador da Toledo e Associados e sócio do LeeToledo PLLC, explica melhor o cenário. 

“Existem inúmeros influenciadores dando dicas para tirar visto. Um dos vídeos que vi recentemente, por exemplo, era de uma mulher que estava ilegal e, mesmo assim, ela estava dando dicas para tirar todo tipo de visto. Ou seja, apesar de ela mesma não ter conseguido se qualificar para o visto, sugeria aos outros o que poderiam fazer”, conta.

O especialista também alerta que assistir a esses vídeos pode prejudicar quem pretende entrar no país por duas principais razões: por conta das informações incorretas e porque quem segue, curte ou comenta esse tipo de conteúdo pode despertar a atenção das autoridades que atuam com proteção de segurança nacional nos Estados Unidos.

“Obviamente quem se interessa por esse tipo de conteúdo quer fazer algo parecido. E quando o nome fica marcado nesse vídeo de alguma forma, existe uma bandeira vermelha em você, que acaba sendo indiretamente um alvo de investigação”, finaliza.