Estive, durante os últimos 63 anos, trabalhando nas áreas de viagens, turismo, transporte e hotelaria, promovendo destinos e incentivando um infinito número de pessoas a participar de uma das mais gratificantes experiências da vida contemporânea, isto é, a de se permitir visitar outros núcleos (além daqueles de suas próprias residências). Realmente, não há nada mais prazeroso do que explorar uma nova região e conhecer diferentes culturas, outras gentes e compartilhar das alegrias que resultam destes descobrimentos. Entretanto é notório, também, como esta prática mudou radicalmente com o advento do turismo de massa (que vem crescendo, cada vez mais desde o início dos anos 1960, e permitindo a um mundaréu de gente de se beneficiar deste incrível e delicioso exercício). É bem visível o quanto esta nova massificação, ou “democratização” da atividade, trouxe consigo um alto custo relacionado à perda da “suavidade” que outrora existia no processo em questão. 

Hoje, não adianta negar, turista sofre! Não que viajar ou “turistar” perdeu o seu encanto, mas apenas que é absolutamente necessário entender e aceitar que, hoje em dia, a sua prática agrega muitos momentos de tensão e cansaço, além de uma enorme dose de compreensão e conformismo. Devemos entender que, via de regra, não há como querer nadar sem se molhar. Em princípio, uma coisa vem junto com a outra, não há como querer desfrutar da primeira sem aceitar a sua consequência! 

Mencionando aqui, só como exemplo, uma viagem para fora do país. A maratona começa desde a escolha e a decisão de viajar (as reservas aconselháveis, a emissão da passagem, a documentação e os eventuais vistos necessários, o seguro-assistência, o desbloqueio do cartão-de-crédito e do roaming do celular, entre outros); a preparação da mala (e os cuidados para não incluir, em sua bolsa de mão, itens proibidos para o acesso à aeronave); o caminho até o aeroporto (e o receio de encontrar um trânsito pesado que possa resultar no atraso para a apresentação); o encontro com um aeroporto super lotado, mais parecendo um formigueiro de gente; a eventual fila no check-in; o transcurso para o portão-de-embarque (tirando sapatos, cinto, carteira, relógio e outros itens) para passar pelo raio-x da segurança; o acesso à aeronave (com os tradicionais “apertos” e a procura de espaço disponível nos racks acima dos assentos); o desconforto do lugar onde, provavelmente, irá passar as próximas horas (isto em se tratando de viagem em classe econômica, mas outros incômodos acontecem, acreditem, também nas classes ditas como especiais); as dificuldades para apreciar uma possível refeição a bordo; a irritação ao tentar esperar a sua vez para ir a um dos poucos banheiros, minúsculos e desconfortáveis, disponíveis; o desembarque e as longas caminhadas até a autoridade responsável pela imigração e pela verificação da documentação necessária à entrada no país a ser visitado; a ansiedade, incontrolável, durante a espera para receber a sua bagagem (e o temor de fazer parte daqueles que tem a sua mala extraviada); a procura do traslado (em ônibus, táxi ou carro privativo) para o hotel reservado; a apresentação na recepção do hotel (preenchendo fichas e garantindo extras através do cartão de crédito) até receber a chave do quarto e, finalmente, poder suspirar com o alívio de ter concluído, com sucesso, a primeira fase de sua viagem. 

Não querendo me alongar mais ainda sobre cada fase ou, melhor, cada parte da jornada, acho importante lembrar e mencionar as visitas previstas paras museus, muitos exigindo reservas bem antecipadas, via internet  (tal como a Galleria Borghese, em Roma), monumentos (tal como o Coliseu, também em Roma), aglomerações inacreditáveis (tal como a tão esperada visita à Acrópole, em Atenas), a escassez de banheiros públicos (e limpos), as filas (intermináveis) para adquirir ingressos, o “empurra-empurra” nas visitas a sítios famosos, sem falar dos apertos nos restaurantes, lojas, atrações, shoppings e terminais para embarques a bordo dos mega navios dos grandes cruzeiros marítimos, etc. 

Apesar da certeza de que viajar e passear continuam entre as melhores experiências desta vida, é importante estar ciente deste inevitável “sofrimento” e entender bem que, este último, vem, no turismo de hoje, junto no pacote.