A incorporação de diversidade, equidade e inclusão (Dei) nas políticas de viagens corporativas foi tema de um dos painéis do Lacte 20, evento promovido pela Alagev. Especialistas do setor discutiram a importância de adaptar programas de viagens às necessidades dos colaboradores, garantindo segurança, respeito às diferenças e retenção de talentos.

Junior Volpato, gerente executivo de Negócios da IntSOS Brasil, destacou a necessidade de um olhar mais atento às pessoas que viajam a trabalho. “Se nos preocupamos com trabalhadores de chão de fábrica e fornecemos equipamentos de proteção individual, por que não oferecer o mesmo nível de segurança para quem viaja?”, questionou. Ele reforçou que empresas devem garantir que os funcionários estejam preparados para os desafios de cada destino.

Um dos pontos centrais abordados foi a segurança de grupos minorizados em determinados países. Volpato alertou para regiões onde a legislação pode representar riscos para determinados perfis de viajantes. “Existem países em que práticas relacionadas à comunidade LGBTQIA+ são punidas com pena de morte ou onde mulheres podem ser presas por interações que, em outros lugares, seriam comuns”, exemplificou. A recomendação é que empresas informem previamente os viajantes sobre eventuais restrições e utilizem ferramentas de monitoramento para garantir assistência em tempo real.

Juliana Motta, executiva de Contas da A1 Inteligência em Viagens, reforçou que o conceito de Dei vai além da diversidade visível. “Quando falamos de identidade, abordamos gênero, raça e orientação sexual. Já a equidade trata de oferecer um tratamento igualitário, e a inclusão envolve respeitar e valorizar todos dentro da organização”, explicou.

Ela destacou que a implementação da Dei nas viagens corporativas precisa ser estratégica, com acompanhamento de indicadores específicos. Dados do IBGE apontam que 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, mas menos de 1% dessa parcela está empregada. Além disso, apenas 29% das mulheres ocupam cargos de liderança. “Precisamos de monitoramento contínuo para mudar esse cenário. Os KPIs ajudam a medir não apenas a representatividade, mas também a satisfação e o impacto das políticas inclusivas”, afirmou.

Marcos Marques, diretor Comercial da BCD Travel, ressaltou que a desinformação ainda é um obstáculo para a implementação eficaz da Dei. “Os gestores de viagens precisam garantir que seus colaboradores tenham acesso a fontes confiáveis, evitando que fiquem vulneráveis a fake news que possam colocá-los em risco”, pontuou.

Ele também apontou no Lacte 20 um descompasso entre Dei e o conceito de Duty of Care, que envolve o dever da empresa de garantir a segurança dos viajantes. “Cerca de 30% das empresas ainda tratam todos os funcionários da mesma forma, sem considerar as necessidades específicas de grupos minorizados. Apenas 10% possuem políticas direcionadas para viajantes com deficiência”, revelou. Para reduzir essa lacuna, Marques sugere maior diálogo interno entre setores, parcerias estratégicas e conscientização da liderança.

O painel reforçou que integrar Dei às políticas de viagens não apenas melhora a experiência dos viajantes, mas também fortalece a reputação e a competitividade das empresas. Com práticas mais inclusivas, as organizações podem garantir segurança, engajamento e retenção de talentos de forma mais eficaz.