A morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025, um dia após o domingo de Páscoa, provocou uma reação imediata no setor de turismo religioso e cultural em Roma, com ajustes operacionais por parte de operadoras e expectativa de aumento expressivo no fluxo de visitantes à capital italiana.
O falecimento do pontífice, aos 88 anos, desencadeia um processo tradicional milenar de transição papal, com desdobramentos significativos para o turismo mundial — especialmente durante o Jubileu Católico de 2025, que já previa atrair cerca de 32 milhões de pessoas à cidade.
“Estamos diante de um momento histórico e profundamente simbólico, que deve gerar um pico de interesse internacional. A movimentação de viajantes será intensa, com turistas buscando vivenciar os ritos fúnebres, o período de luto e a escolha do novo Papa”, afirmou James Ridgway, CEO da ETS, operadora especializada em turismo cristão.
Programações revistas e comunicação reforçada
Empresas como Perillo Tours, EF World Journeys e Central Holidays estão entre as operadoras que já anunciaram ajustes nos roteiros. Steve Perillo, presidente da Perillo Tours, destacou que a agência está em contato direto com parceiros locais para manter ao máximo a normalidade das operações. “Teremos muitos viajantes em Roma nas próximas semanas e estamos atentos às mudanças, principalmente em relação ao acesso aos museus do Vaticano e à Basílica de São Pedro”, disse.
A EF World Journeys, por sua vez, confirmou que a Capela Sistina será completamente fechada durante o conclave — período no qual os cardeais da Igreja Católica se reúnem, a portas fechadas, para eleger o novo pontífice. Embora o início da votação ainda não tenha data definida, espera-se que ocorra entre 15 e 20 dias após a vacância do cargo.
“A morte do Papa João Paulo II, em 2005, mobilizou cerca de 4 milhões de pessoas em Roma. Acreditamos que a despedida de Francisco terá impacto semelhante, ainda mais dentro do contexto do Jubileu”, explicou Ridgway, ao lembrar que mesmo com restrições temporárias, muitos visitantes encontraram experiências transformadoras naquele período.
Multidões esperadas e programação religiosa alterada
A expectativa é de grandes aglomerações na Praça São Pedro, na Via della Conciliazione e em pontos centrais de Roma. Além do Vaticano, outras igrejas relevantes para o cristianismo, como a Basílica de São João de Latrão e a de São Paulo Extramuros, devem receber um fluxo elevado de fiéis e turistas. Maria Jose Merino, vice-presidente de operações da Central Holidays, acredita que haverá aumento de visitantes nesses templos, embora a empresa ainda não tenha alterado seus itinerários.
O Vaticano já anunciou o cancelamento da celebração eucarística do Jubileu dos Adolescentes, marcada para 27 de abril, em razão do luto oficial, que se estenderá por nove dias. A medida reforça o alerta para possíveis cancelamentos e suspensões de eventos religiosos programados anteriormente.
Desinformação e apoio a agentes de viagem
Para evitar desentendimentos ou frustrações, o setor de turismo tem priorizado a comunicação transparente. Steven Gould, presidente da Goulds Travel e líder do grupo Travel Advisors Selling Europe, recomenda que agentes mantenham seus clientes informados, sem alarme, mas com clareza. “A Praça do Vaticano estará lotada. Para muitos, será uma experiência única, mas os viajantes precisam estar preparados para mudanças de última hora e aumento da movimentação”, afirma.
Gould também alertou para a possibilidade de um feriado nacional ser decretado na Itália, o que pode impactar ainda mais o funcionamento de atrações turísticas, restaurantes e serviços. “O segredo está em preparar o cliente, não em assustá-lo”, completa.
Enterro rompe com tradição
Diferentemente de seus antecessores, Francisco expressou o desejo de não ser sepultado nas Grutas Vaticanas, sob a Basílica de São Pedro. Ele será enterrado na Basílica Papal de Santa Maria Maior, outro ponto histórico que deve ganhar relevância nas próximas semanas e atrair milhares de visitantes.
Com uma média anual de 60 milhões de turistas, a Itália vive agora um momento de comoção global e reorganização logística. A morte de um papa em exercício — a primeira desde 2005 — mobiliza não só o catolicismo, mas também o interesse histórico, cultural e espiritual de viajantes de todo o mundo.
Experiência espiritual e legado turístico
Apesar das limitações previstas, operadores acreditam que a vivência desse momento poderá se tornar uma das experiências mais significativas para os visitantes. “Mesmo com o fechamento de alguns espaços, as missas, vigílias e cerimônias públicas oferecem uma conexão profunda com a fé e a história da Igreja”, concluiu Ridgway.
A escolha do novo pontífice, nas próximas semanas, deverá marcar um novo ciclo para a Igreja Católica e, ao mesmo tempo, manter Roma no centro das atenções do turismo mundial — reforçando o poder simbólico e econômico da cidade enquanto destino religioso.